Page 5 - memorias
P. 5

OS  OITO  DEGRAUS  DA  CARIDADE

                       Existem  oito  degraus  no  dcvcr  da  caridade:
                       O  primeiro  c  mais  baixo  degrau  c  dar,  mas  com  relutância  ou  con­
                    tra  a  vontade.  Esta  c  a  esmola  da  mão,  não  do  coração.
                       O   segundo  é  dar  alegremente,  mas  não  proporcionalmente  à  necessi­
                    dade  do  sofredor.
                        O   terceiro  é  dar  com  alegria  c  em  proporção,  mas  só  depois  de  soli­
                    citado.
                        O   quarto  c  dar  alegremente,  cm  proporção  c  sent  ser  solicitado;  pondo,
                    entretanto,  a  esmola  na  mão  do  pobre  c  nele  provocando,  assim,  a  dolo­
                    rosa  emoção  da  vergonha.
                        O   quinto  é  dar  de  maneira  tal  que  o  necessitado  receba  a  esmola  e
                    saiba  quem  é  o  seu  benfeitor,  sem  ser-lhe  conhecido.  Assim  agiam  alguns
                    dos  nossos  antepassados,  qtte  costumavam  amarrar  o  dinheiro  nas  abas  tra-
                    zeiras  das  roupas,  paru  que  os  pobres  o  pudessem  tirur  sem  serem  vistos.
                        O  sexto  degrau,  ainda  mais  elevado,  e  conhecer  os  beneficiários  da
                    nossa  caridade,  sem  que  eles  saibam  quem  som os.  Assim  procediam  aque­
                    les  dos  nossos  antepassados  que'  levavam  suas  dádivas  caridosas  para  as
                    moradius  dos  pobres,  precavcndo-sc  para  que  os  seus  próprios  nomes  per­
                    manecessem  ocultos.
                        O   sétim o  é  ainda  mais  louvável,  a  saber:  distribuir  as  esmolas  de  mo­
                     do  tal  que  nem  o  benfeitor  saiba  quem  são  os  auxiliados,  nem  estes  o
                     nome  do  seu  benfeitor.  Isto  faziam  os  nossos  avós  caridosos  no  Templo.
                     Pois  naquele  santo  edifício  existia  um  lugar  chamado  C âm ara,  do  Silêncio
                     ou  da  Inostentação,  onde  os  bons  depositavam  secretamente  o  que  seu
                     generoso  coração  lhes  sugeria  c  do  qual  as  mais  respeitáveis  famílias  pobres
                     eram  sustentadas,  com  igual  discrição.
                        Finalm ente,  o  oitavo  c  mais  meritório  degrau,  é  antecipar  a  caridade,
                     evitando  a  pobreza,  a  saber:  ajudar  o  irtnão  empobrecido,  seja  com  um
                     presente  considerável,  seja  ensinnndo-lhe  uma  profissão  ou  cstabelcccndo-o
                     no  com ércio,  para  que  ele  possa  ganhar  honestam ente  a  sua  vida  e  não  seja
                     forçado  a  estender  a  mão  para  a  caridade.  Ê  u  isso  que  a  Escritura  se
                     refere  quando  diz.  “E  quando  teu  irmão*  empobrecer,  e  as  suas  forças  decaí­
                     rem,  então  Sustentá-lo-ás,  c  assim  ao  estrangeiro  e  ao  peregrino  para  que
                     viva  contigo"*.
                         Este  é  o  mais  alto  degrau,  —   É   o  cume  da  “ESCADA  D E   OURO
                     D A   C A R ID A D E ”.
                                                  Malmônldes:  "lud.  Matnot-Aniím"  X.  t-14

                     *  “N ão  está  escrito  ‘o   homem  pobre’  —   diz  o  Talmud  —   mas  'o  -teu
                     irmão',  pata  m ostrar  que  ambos  são  iguais".   ___                _
   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10