Page 33 - Anuário Estatístico da Companhias Abertas 2017/2018
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    Matéria de capa Cover story
      1. PERSPECTIVAS FAVORÁVEIS
Na medida em que sejam mantidas as expectativas de queda da inflação, ajuste gradual das contas públicas e redução da parcela de crédito direcionado, serão criadas as condições de uma queda sustentável da taxa real de juros. Nesse contexto, configura- se um cenário promissor para que o mercado de capitais tenha condições de resgatar sua funcionalidade como principal fonte de recursos de longo prazo no país.
2. FATORES DE INIBIÇÃO DO MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO
Trata-se de mudança radical em relação às condições que têm sido enfrentadas especialmente a partir da crise de 2008. Apesar de importantes avanços do seu ambiente regulatório, o mercado de capitais brasileiro tem apresentado pouco crescimento nos últimos anos. Seus instrumentos e veículos1 têm papel dominante na mobilização de poupança financeira, respondendo por mais de 60% do total, mas seu desempenho no financiamento das empresas tem sido modesto.
O mercado de ações tem sofrido mais intensamente com a conjuntura
desfavorável. A participação nesse mercado se limita praticamente a uma pequena proporção de empresas grandes, que promovem grandes emissões, intermediadas por grandes bancos, absorvidas por grandes investidores, principalmente estrangeiros2. Menos de 5% das empresas grandes, com faturamento superior a R$ 400 MM anuais são companhias de capital aberto e apenas 8% delas fizeram emissões de ações ou de títulos de dívida entre 2010 a 2015. O número de empresas listadas é um dos menores e tem caído nos últimos anos. Apesar dos esforços e medidas de incentivo adotadas, apenas uma dezena de empresas está no mercado de acesso. Do lado dos investidores, a base de pessoas físicas, fator relevante para sustentar um mercado de acesso dinâmico, é de apenas 0,3% da população3, número que se compara com a média de 5% dos emergentes, 0,7% na Índia, 13% nos EUA e 5% na China.
Vários trabalhos do CEMEC4 tem demonstrado que a permanência de elevadas taxas reais de juros por períodos longos é o principal fator de inibição do desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. Esse
impacto é especialmente importante nos investimentos em renda variável, de risco relativamente elevado, que se defronta com a concorrência de títulos públicos com risco de crédito soberano, elevada liquidez e alternativas de indexação isentas de risco de mercado.
Em condições normais de mercado, observadas nas maiores economias mundiais, o investimento em ações no longo prazo oferece rentabilidade superior aos ativos de renda fixa e especialmente aos títulos públicos, com prêmio de risco compensador. Não é o caso da economia brasileira, salvo em determinados períodos curtos. Desde a adoção do Plano Real em 1994, a rentabilidade acumulada dos títulos públicos supera por larga margem a rentabilidade das ações.
Com esse cenário, o mercado para ações no Brasil é restrito, como resultado da preferência dos investidores por títulos de renda fixa e especialmente títulos públicos. Por exemplo, a parcela de investimentos em renda variável da carteira de fundos de investimentos no Brasil é da ordem de 10%, contra a média internacional de 40%. Como se observa
PROMISING SCENARIO FOR THE BRAZILIAN CAPITAL MARKET
 1. FAVORABLE PROSPECTS
To the extent that the expectations of
inflation drop, gradual adjustment of public accounts and reduction of the targeted portion of credit are kept, conditions will be created for a sustainable drop in the real interest rate. Within this context, it is a promising scenario for the capital market to be able to recover its functionality as the main source of long-term resources in the country.
2. INHIBITION FACTORS OF THE BRAzILIAN CAPITAL MARKET
It is a radical change with respect to the conditions that have been faced especially since the crisis of 2008. Despite significant advances
in its regulatory environment, the Brazilian capital market has shown little growth in recent years. Its instruments and vehicles1 play a dominant role in the mobilization of financial savings, accounting for more than 60% of the total, but its performance in corporate financing has been modest.
The stock market has suffered in a more intense way with the unfavorable situation. Participation in this market is practically limited to a small proportion of large companies, which promote large issuances, which are intermediated by large banks, absorbed by large investors, mainly foreigners2. Less than 5% of large companies with annual revenues exceeding R$ 400 million are publicly
held corporation, while only 8% of them have issued shares or debt securities between 2010 and 2015. The number of listed companies is one of the smallest and has dropped in the last few years. Despite the efforts and incentive measures adopted, only a dozen companies are in the access market. On the investors’ side, the base of individual, a relevant factor to sustain a dynamic access market, is only 0.3% of the population3, number compared with the average of 5% of emerging markets, 0.7% in India, 13% in the USA and 5% in China.
Several works by the CEMEC4 have proved that the persistence of high real interest rates over long periods is the main factor inhibiting the development of the Brazilian
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