Page 9 - Uma breve degustação
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Itacoatiara, para mim, à época, o homem mais poderoso e rico entre
          todos  os  homens,  tido  como  possuidor  de  saberes  e  poderes
          decorrentes  de  um pacto  com  o demônio,  que  lhe  permitiram  tanta
          riqueza. Era isso, e outras coisas mais, que se falava à boca pequena
          no meio da curuminzada interiorana. Por isso, eu corria de medo dos
          Maçons.
              Mas o mundo deu voltas e mais voltas, e numa tarde do mês de
          outubro  do  ano  de  1975  alguns  homens,  acompanhando  um  primo
          meu, estavam batendo à minha porta para levar-me a uma cerimônia
          onde  me  tornaria  Maçom.  Naquele   momento   me  dominava   um
          sentimento de medo e esperança. Medo, pela certeza de que alguma
          coisa  satânica  iria  acontecer  para  prejudicar  minha  caminhada  em
          direção ao céu; esperança na velada promessa do meu querido primo
          Antônio Nogueira Lira, o Totó, Maçom, de que minha vida, até então
          de muita dificuldade, iria dar um salto inimaginável em direção a um
          futuro de tranquilidade. E deu! Mas isso é outra história.


          2  OS RECIPIENDÁRIOS
              Ao chegar ao local onde aconteceria a cerimônia, lá pelas quatorze
          horas, estranhei o fato de o edifício estar em construção, uma vez que,
          segundo  o  meu  primo,  a  Maçonaria  era  uma  coisa  muito  antiga,
          milenar,  poderosa,  responsável  por  feitos  históricos  inimagináveis.
          Apesar disso, e do grande número de empresários poderosos, políticos,
          juízes  e  desembargadores,  que  meu  primo  dizia  integrarem  a
          Maçonaria, por que essa construção grosseira e mal-acabada?
              A  recepção  inicial,  percebi,  foi  feita  por  alguém  que  não
          combinava muito bem com os parâmetros que meu primo dizia que os
          Maçons   estavam  enquadrados.  De  uma   forma  grosseira  e  mal-
          educada, ele foi realizando os procedimentos de preparação dos cerca
          de  quinze  candidatos,  alguns  desses  procedimentos  ainda  hoje
          adotados  pelo  trabalho  de  emulação  em  algumas  Lojas
          desavisadas. Em  seguida,  aquele  recipiendário  os  fazia  adentrar  no
          ambiente  que  mais  tarde  fiquei  sabendo  ser  um  Salão  de  Passos
          Perdidos.  Naquele  espaço,  os  candidatos  foram  submetidos  a
          “provas”  tais  que  os
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