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Obras de arte com Textos produzidos por alunos (cont.)
OBRA 02
Artista: Ceija Stojka
Título da obra: Sim
Senhor! Agora Têm-
nos Todos Num Molhe
Ano: 2003
Técnica: tinta da china
sobre papel
Local: Sintra, MUSA -
Exposição Ceija Stojka
TEXTO 02 A derradeira e horrenda solução final da Alemanha nazi
Em 1938, assistiu-se a uma viragem na política de discriminação antissemita que se tornou agressiva, visível em diversos
acontecimentos e medidas, que levaram o racismo nazi ao extremo. Na Noite de Cristal, a 9 de novembro de 1938, sinagogas
e estabelecimentos comerciais pertencentes a judeus foram destruídos e os seus bens foram também confiscados. Desta for-
ma iniciou-se a separação dos judeus através de várias medidas de segregação racial. Primeiro foram encerrados os guetos e
os judeus foram obrigados a usar a estrela amarela de cinco pontas como forma de identificação; depois, a partir de 1942, foi
adotada a chamada solução final nazi para o problema judaico. Muitos judeus foram mortos e cerca de trinta mil foram envia-
dos para os campos de concentração. Foi nos campos de extermínio que ocorreu o genocídio de onze milhões de pessoas,
mortas nas câmaras de gás. Polacos, eslavos, homossexuais, ciganos, opositores políticos, prisioneiros de guerra, deficientes
e judeus foram as vítimas daquele que foi o terrível Holocausto, podendo confirmar o racismo e a xenofobia que dominava a
Alemanha naquela época. Podemos ver no mapa da geografia da Solução Final os diversos campos de concentração e de
extermínio como também os locais onde estavam os “institutos de eutanásia”, tudo isto com um único objetivo, extinguir aque-
les que iam contra os ideais do regime de Hitler.
Como todos nós sabemos, este marcante episódio na história da humanidade apresenta não só a triste realidade passada,
como também as “criações” e o que aconteceu dentro dos campos de concentração e de extermínio. No texto “A Solução Fi-
nal” de Shlomo Venezia, que era Sonderkommando, um judeu forçado a trabalhar nas câmaras de gás, relata o quão horroro-
so foi ver e viver todos aqueles acontecimentos, desde as salas onde as pessoas se despiam, até às câmaras de gás e os
crematórios. As primeiras pessoas a entrar eram as mulheres, depois os idosos e as crianças, e por fim os homens. Na sala
onde se despiam, ao longo da parede, existiam cabides com números, e os alemães enganavam as pessoas dizendo que es-
ses números serviam para encontrar com mais facilidade a sua “farda” depois do banho. Às indicações dadas, acrescentavam
a de atarem os sapatos ao par correspondente, estratégia que servia apenas para transmitir tranquilidade às pessoas e para
facilitar a triagem quando as coisas chegavam ao Kanadkommando, para além do facto de lhes prometerem uma refeição
após a «desinfeção». O gás é libertado pelos próprios prisioneiros do Soderkommando, ordenados pelos alemães, e apenas
demorava entre dez a doze minutos para que toda a gente estivesse morta, e de seguida os corpos eram enviados para os
crematórios. Este foi o fim de muita gente, e só sabemos este tipo de informações graças aos sobreviventes que ainda hoje
estão vivos, mesmo depois de terem passado por aquela horrenda realidade. É verdade que estas pessoas tiveram um final
diferente das outras, mas isso não muda o facto de terem sofrido na pele o terror ali vivido. Nos textos e obras de arte de Ceija
Stojka, uma sobrevivente de um campo de concentração nazi, conseguimos ter a perceção do quão perturbador foi aquela
experiência. Alguns dos versos dos seus poemas que mais nos tocaram e nos deixaram arrepiadas foram “Eu Ceija digo que
Auschwitz vive e respira ainda hoje em mim (…)”, “(…) Eu estava sempre lá fora, sentada entre os mortos. Era o único lugar
realmente calmo, abrigado ao vento. (…)”, e por fim, “(…) Os soldados tocavam-nos para saber se éramos reais, se estáva-
mos vivos! (…) E como choravam e gritavam! E éramos nós que os consolávamos! No fundo, depois da Libertação, faziam-
nos falta os mortos. Eram os nossos protetores e eram seres humanos. (…)”.
Em “A Lista de Schindler” também podemos ver um grupo de mulheres que foram desviadas secretamente para que os ale-
mães não percebessem que elas não tinham desaparecido. Podemos claramente perceber o quão angustiadas e cheias de
medo estavam até ao momento de sentirem água nos seus corpos, percebendo assim que teriam conseguido escapar. Para
as pessoas que sobreviveram a esta tragédia foi muito difícil retratar tudo o que passaram, de tal modo que atualmente até o é
para as gerações que seguiram depois destes, sendo algo que nunca irá ser apagado não só das memórias dos sobreviventes
que testemunham, como também das memórias de quem os ouve. Tudo isto podia ter sido evitado, e matar não é nem nunca
foi a solução para nada! Tal como Ceija refere em um dos seus poemas, “(…) mantenham os olhos abertos sobre o mundo em
que vivem e que velem para que aquilo não volte a acontecer.”
Inês Gregório, Joana Silva
(alunas CCH – Línguas e Humanidades, 12.º ano)
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