Page 6 - Newsletter_agosto22Completa_QR
P. 6
Obras de arte com Textos produzidos por alunos (conclusão)
OBRA 03
Artista: Ceija Stojka
Título da obra: Sem
Título
Ano: nd
Técnica: Caneta de
feltro sobre papel
Local: Sintra, MUSA -
Exposição Ceija Sto-
jka
Fotografias -
José Fernando Vasco,
2021
TEXTO 03: O Pecado da Humanidade
O crime cometido pelos nazis foi realizado com uma crueza implacável sobre a condição humana, que foi uma gigantesca
experiência biológica e social, onde foi possível estabelecer o que é essencial e o que é adquirido no comportamento do ani-
mal-homem perante a luta pela vida.
A "Solução Final" foi assim denominada para se referir ao plano de aniquilação total do povo judeu (Holocausto ou genocídio).
Assim, foi uma época de graves medidas discriminatórias contra os mesmos, além de ciganos e homossexuais. Adolf Hitler
tinha como princípio uma raça superior, a raça ariana, que era para ele a linhagem mais pura dos seres humanos, constituída
apenas por indivíduos altos, fortes, claros e inteligentes. Considerava como arianos os povos nórdicos e germânicos, repre-
sentando o auge da civilização, sendo responsáveis por todo o progresso da humanidade ao longo da história. Na Alemanha,
Hitler utilizou isso como base para a política de extermínio de judeus e de outros povos não arianos, levando ao crescimento
do racismo e da violência contra os mesmos. O racismo, apoiado pelo Partido Nazi, permitiu a criação de leis antissemitas,
tendo o objetivo de revogar os seus direitos civis, políticos e económicos. Com isto, foram criados mais de quatrocentos de-
cretos e regulamentações que restringiram todos os aspetos das suas vidas pública e privada. Uma das leis antissemitas mais
importante foi o facto de todos os judeus que estavam em algum cargo de governo alemão seriam despedidos; outra lei im-
posta foi a restrição do número de judeus em escolas e universidades alemãs.
Desta forma, os judeus e outros povos não considerados arianos, não seriam elevados à categoria humana, já que o seu no-
me só lhes serviria para dar entrada num campo de concentração, e a partir daí, o número tatuado no braço era a sua identi-
dade. De resto, não eram e não tinham absolutamente nada, eram apenas almas perdidas numa época feita de crimes e pe-
cados onde o lema seria "sucumbir ou salvar-se". Ceija Stojka, uma sobrevivente de um dos muitos campos de concentração,
dizia: "Por todo o lado sentimos que as almas são arrastadas/Não conseguimos compreender como houve homens capazes
de conceber um tal lugar de horror." O homem de que aqui se fala é um homem reduzido ao sofrimento, à carência, esquecido
da dignidade, já nada lhes pertencia. Viviam num campo de extermínio onde rapidamente se aprendia que tudo serve, por
exemplo, o valor dos alimentos. Percebe-se isso quando se sabe que o pão é comido com a marmita por baixo para não des-
perdiçar as migalhas. É isto que se merecia no campo. Despojados de tudo, da sua vida quotidiana, da sua identidade, da
possibilidade de se pensarem intimamente como homens livres, são sustidos, paradoxalmente, por um lado puramente físico,
animal, que os impele à sobrevivência. Porque esta requer um sentido, uma meta, um futuro, ou seja, tudo o que todas estas
pessoa não conseguem nem sequer alcançar no seu pensamento.
Tudo isto teve devastadoras consequências, desde a quantidade de pessoas que morreram (cerca de seis milhões de judeus)
até à criação da ONU em 1945, com o objetivo de manter a paz entre as nações, resolver conflitos de forma pacífica, promo-
ver os direitos humanos e auxiliar as vítimas da Segunda Guerra Mundial. Após anos de sobrevivência, em janeiro de 1945,
os campos são libertados e o arame farpado não significava mais o poder doentio dos alemães, não mais as seleções, não
mais o trabalho, não mais as pancadas e violência, não mais as chamadas, e não mais o regresso. Foram dias, meses e anos
apelando à memória e ao sonho de estar junto com a família e amigos numa casa aquecida e acolhedora. Mas em contrário,
apenas se tinha uma breve consciência que já não conseguia compreender valores como o da dignidade, da individualidade e
do respeito. O futuro não existia e não haveria forças para a indignação.
A libertação não trouxe medo para quem foi libertado, mas sim, para quem os libertou: "Quando nos libertaram, não conse-
gues imaginar os gritos dos soldados aliados quando viram o campo de concentração! Tantos cadáveres! Os soldados toca-
vam-nos para saber se éramos reais, se estávamos vivos! Não conseguiam compreender como conseguíramos viver ali, entre
os cadáveres, que havia pessoas vivas entre os cadáveres. E como choravam e gritavam! E éramos nós que os consoláva-
mos! No fundo, depois da Libertação, faziam-nos falta, os mortos. Eram os nossos protetores e eram seres humanos. Pesso-
as que conhecêramos. E não estávamos sós porque havia tantas almas que volteavam ao nosso redor." - Ceija Stojka.
A "Solução Final" foi um exemplo da tirania alemã que se espalhou por toda a Europa, perseguindo e matando milhões de
pessoas. Assim, foi considerada como um crime contra a humanidade, desvalorizando a importância da vida e da definição do
que realmente é um homem.
Diana Ferreira, Gonçalo Colaço
(alunos CCH – Línguas e Humanidades, 12.º LH3
Página 6 NEWSLETTER