Page 21 - ARCANO XIII
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bodum de saco no quarto/chão/colchão/lençol tudo sujo, mas quem mais fedia era ele. – depressão
que chama, irmão. o cérebro cansado de não achar solução dá tilt e para de
funfar – enrolou um cigarro e olhou
o cano na gaveta. era bonito o trezoitão
cromado; segurou com a mão errada
porque a outra tava ocupada segurando o
cigarro ficou uns instantes admirando a
peça reluzente refletindo a programação
da televisão sem som sempre ligada pra iluminar o ambiente. então
apontou pra própria cabeça de frente pro espelho do roupeiro.
tentou engatilhar, mas o cão escapuliu do dedo. soltou o cigarro no
cinzeiro e segurou direito, engatilhou e apertou o gatilho.
largou o revólver na gaveta e pegou o celular, abriu o whatsapp e olhou as conversas tentando achar alguém
pra quem ainda não estivesse devendo dinheiro. nada. de todos os conhecidos, estranhos, amigos, mulheres,
parentes não sobrara nenhum. ou já tava devendo ou nem emprestaram. na real todo mundo sabia que ele
não ia pagar mesmo, sem expectativa de sair desse buraco em que estava. tinha uns outros nomes na
agenda, mas não era de gente pra quem se pudesse ficar devendo. faz parte. ele era mais
do corre que da camaradagem. sempre só pode contar mesmo era com as minas, mas essas
tavam tendo que se virar de outro jeito, não precisavam mais dele.
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