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Secretamente agradeceu a alguma inteligência divina e superior à chance de
se redimir de seu egoísmo monstruoso e guardou aquele momento num
cantinho especial do coração.
Estavam em vinte e um de maio, meados do outono em que a natureza se
preparava para o desnudar das almas que sucumbiriam ao hibernar do
inverno e Isabeau viveu os sete anos seguintes, até completar dezessete anos,
em viagens infindáveis e para destinos extraordinários e escolhendo dias
diferentes para festejar seu aniversário. Faziam cada festejo mais espetacular
e criativo que o outro.
Os vários aniversários festejados eram cuidadosamente marcados por Isabeau
em um diário secreto com as datas e anotações ao lado para qualificar as
festas, passeios, brincadeiras e presentes numa escala particular de satisfação.
Podiam ser avaliados como mais ou menos, bons, muito bons, ótimos e geniais
e havia ainda uma coluna com a contagem dos anos fictícios acumulados
marcando a idade que ela teria se fossem aniversários reais.
Na última contagem Isabeau constatou encantada que se todos os
aniversários fossem válidos ela estaria com a fantástica idade de 179 anos.
Então, finalmente cansada da brincadeira e mais amadurecida, abriu o
envelope que lhe fora entregue por Victor naquela época de solidão absoluta,
leu a data ali escrita e sem uma palavra, voltou a guardá-lo num dos cantos
mais distantes da prateleira de livros de histórias.
Dias depois, ao final de uma reflexão tão íntima que nunca a ninguém foi dado
saber o que se passara em seu espírito, Isabeau anunciou aos velhos que o dia
do seu aniversário seria sempre 21 de maio.
Foi assim que antes de contar vinte anos, Isabeau Astu Ninan Gatopardo já
havia conhecido a maior parte dos países do mundo e aprendera a falar quatro