Page 24 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 11.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-1_Neat
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Victor Gatopardo viu Isabeau reconheceu o cruel abandono da menina e
sentiu a maior vergonha de toda sua vida.
Cesar já começara um discurso sobre a inutilidade de saberem-se a exatidão
dos dias dos aniversários que ameaçava acabar com uma preleção sobre as
possibilidades das mortes traiçoeiras que levavam os seres com os quais
muitos bolos festivos tinham sido cortados e velinhas comemorativas
assopradas.
Mas Victor calou-o com um gesto de tamanha autoridade que não admitiu
questionamentos.
Então prometeu à menina que iria procurá-la na sala de estudos ao final da
tarde para conversarem. Buscava garantir assim, a si mesmo e ao cunhado, o
necessário equilíbrio para lidarem com a situação e o tempo para descobrirem
a resposta à pergunta, certamente através do registro de nascimento da
criança que deveria estar esquecido entre papéis em alguma gaveta ou cofre.
Mais tarde Victor foi à sala de estudos e encontrou Isabeau ocupada com um
quebra cabeças indicado para pessoas muitíssimo mais velhas do que ela,
composto de infinitas peças minúsculas e dificílimas de diferenciar entre si e
que ela examinava demoradamente antes de tentar cada encaixe.
Ela ainda vestia as velhas roupas que não eram dela e no rosto o tom de um
batom vermelho demais a envelhecia até fazê-la parecer uma anã com olhos
de criança.
Victor se aproximou cauteloso, ciente de ser praticamente um estranho e de
não ter o direito de esperar nada além de uma fria tolerância.
Após um longo debate com Cesar, ele havia decidido por uma solução muito
peculiar ao seu caráter criativo, original e amante da justiça, que pretendia
reparar o mal incalculável que seu egocentrismo havia causado à neta e, ao
mesmo tempo se possível, ajudá-la a sorrir. Entregou para Isabeau um