Page 68 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Acabaram-se as festas e as companhias dos amigos de jogo e das mulheres
públicas.
Antes sempre cheio de vaidade por sua figura jovem e atraente, cultivada com
belos e caros trajes, agora o irmão passava os dias enfiado em roupões
maltrapilhos e sujos, ... até mal cheirosos. Saia a cada vez mais e mais tarde
da noite, se esgueirando, para lugares ignorados e secretos, sem responder aos
chamados ou apelos de Victor ou de quem quer que fosse.
Victor começou a temer por alguma doença terrível ou por uma perturbação
mental severa. Mas mesmo seus esforços mais persistentes não conseguiram
fazer seu irmão contar o que estava acontecendo. Ao contrário, quanto mais
enérgicas suas tentativas para atraí-lo e fazê-lo falar mais conseguia afastá-
lo. Até chegar ao ponto de percebê-lo apenas pelas batidas das portas a se
fecharem abruptamente quando o irmão o percebia se aproximando ou leves
e fugidios sopros de ar ou mínimos roçares de tecidos deslizantes denunciando
um corpo que se move furtivo na pressa para se esvair.
Victor experimentou a ilusão de estar vivendo com um fantasma.
Semanas se passaram e o comportamento aflitivo do irmão só piorava, Victor
se pôs a avaliar suas opções e já considerava seriamente buscar a ajuda de
médicos, psiquiatras e até da polícia.
E foi então que os fatos se precipitaram.
Em um entardecer de verão Victor foi atraído dos seus trabalhos escolares na
biblioteca pelo som de vozes alteradas vindas do hall de entrada do casarão.
Saiu apressado pelo som inequívoco de conflito e viu, na porta principal
escancarada, a figura desarranjada do seu irmão, completamente coberto de
sangue e em farrapos e sendo agredido com socos e pontapés, além dos mais
torpes insultos, por dois homens estranhos e trajados como ciganos.