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E assim, contra todas as probabilidades foram anos felizes aqueles primeiros
da adolescência de Victor. Acolhido no casarão Gatopardo com sua aura de
nobreza decadente e mantido à sombra do irmão que vivia uma vida de
desregrados prazeres.
O primogênito Gatopardo parecia ter o propósito firme de acabar com o pouco
da fortuna que ainda restava e escandalizar e desagradar o maior número
possível das famílias tradicionais da severa sociedade Terraaltina. Além de
provocar a comparação inevitável, nas lembranças de todos, com os
desmandos e perdições da vida do seu pai.
Sob a tutela, orientação e patrocínio deste irmão, Victor seguiu seu plano e se
matriculou no curso escolhido, ali mesmo em Terra Alta, numa das mais
prestigiosas Universidades do País e, além disso, iniciou-se em sua sexualidade
e se aprimorou como “bon vivant”.
Mas embora estivesse bastante satisfeito com a liberdade e com às milhares
de possibilidades extravagantes que a vida de farras do irmão lhe
proporcionava, além da entrada garantida em todas as casas de prazeres da
periferia da cidade, a verdade é que Victor teve, desde sempre, uma
personalidade séria, afeita ao trabalho, à busca pelo conhecimento e ao
empreendedorismo não necessariamente material, mas muito mais,
intelectual.
Victor muito cedo se convenceu de que melhorar a educação do povo era o
único caminho verdadeiro para a dignidade da vida dos que o rodeavam e da
sua própria. E secretamente cultivava a ideia de um dia vir a ser professor,
pois o ofício de ensinar sempre lhe pareceu o mais nobre de todos.
Entre as horas de estudos no campus universitário e as festas e farras
organizadas no casarão Gatopardo, algumas durante dias ininterruptos,
Victor mantinha suas aspirações só para si. Uma intuição muito amadurecida
fazia-o acreditar que seus argumentos ainda muito crus não resistiriam às