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terras  conseguiu  salvar  as  antigas  famílias,  reconhecidas  em  brasões
                      sentenciados à erosão do tempo e destinados à aniquilação das suas fortunas.
                      No caso Gatopardo a bancarrota que se avizinhava era sabidamente, na sua
                      totalidade, de exclusiva responsabilidade da inépcia do administrador.


                      Era  notório  que  o  pai  de  Victor  não  podia  ser  recomendado  por  sua
                      competência  e  capacidade  de  trabalho.  Dissipara  a  vida  em  frivolidades.
                      Ainda era um homem moço e vigoroso quando declarou abertamente desejar
                      descarregar imediatamente o peso das responsabilidades sobre seus herdeiros.
                      E o filho varão, promissor às aspirações da renovação do esplendor da família
                      não era Victor, mas seu irmão, o primogênito Gatopardo, mais velho do que
                      Victor quase quinze anos.

                      Consciente disso e francamente agradecido à sorte por não ser o centro das
                      atenções da família, Victor havia decidido abandonar a carreira militar.

                      Logo nos primeiros anos do colégio decidiu que não era aquela vida que queria
                      para si, tampouco tinha alguma aspiração específica e acabou se decidindo
                      pela formação em administração em agronegócios muito mais para ter um
                      título, fosse qual fosse do que por verdadeira vocação ou gosto, sem nenhuma
                      pretensão a assumir a direção dos negócios da família que, aliás àquela altura,
                      Victor  mal  imaginava  quais  seriam.  E  sua  decisão  não  causou  nenhuma
                      comoção familiar além de nenhuma credibilidade, é forçoso reconhecer.


                      Questionado  nestes  seus  arroubos  de  independência  Victor  foi  firme  e
                      monossilábico. “__é do que você gosta?” Perguntara o irmão entre uma tragada

                      e outra de um cigarro longo, fino e escuro, muito mentolado que espalhava
                      um  leve  odor  adocicado  ao  seu  redor.  E  Victor.  “__Não!”,  tão  enfático  e
                      sincero que arrancou ao irmão uma gargalhada deliciosa tão espontânea e
                      cascateante que contagiou a determinação de casmurrice de Victor, acabando,
                      ambos os rapazes, sacudidos pelas risadas compartilhadas.  Isso serviu para
                      que soubessem que poderiam, afinal, darem-se muito bem.
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