Page 75 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Victor podia jurar, muito embora não conseguisse um momento a sós com o
irmão para arrancar dele os detalhes daquela loucura, que não havia passado
pela sua cabeça oca que uma ação como aquela não poderia nunca ter sido
levada a cabo de maneira tão displicente e estúpida.
Certamente, em nenhum momento o tonto havia se dado conta do tremendo
perigo a que estava expondo aquelas famílias, os demais trabalhadores da
região, todos na cidade e eles próprios.
Não sabia, seu irresponsável e inconsequente irmão, que viviam há dezessete
anos sob o jugo de um regime militar e há pelo menos doze anos sob a vigência
de um ato institucional, o décimo quarto de uma série, que previa pena de
morte para os considerados culpados de crimes contra a ordem e a soberania
nacional?
Suspenso por um pânico que não conseguia assimilar com clareza Victor
tentava imaginar o que havia sido o massacre no campo.
Pelas estimativas mais conservadoras se admitiam quase sete mil
trabalhadores rurais mortos, entre homens, mulheres e crianças e outros
quatorze mil presos, levados para algum lugar sob a custódia do poder central
da união. Além de cerca de duzentas pessoas desaparecidas. Era o saldo da
ação militar nas plantações de pimenteiras enquanto, em ato simultâneo, o
general ocupava a capital e as principais cidades do Estado e seus arredores.
Nos dias que se seguiram qualquer dúvida que ainda pudesse haver no espírito
de Victor sobre a atuação irresponsável do seu irmão foi dissipada.
Finalmente Victor compreendeu o famoso episódio da surra descomunal que
quase os matara, ao irmão e a ele próprio. Ele já ouvira falar de agentes que
se infiltravam por toda parte, em todas as classes e instituições com o
propósito de espionarem as atividades de possíveis insurgentes contra o
regime e que atuavam dissuadindo algum afoito. Teve a certeza de que