Page 65 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Pensava nisso e, angustiado, se perguntava o que haveria de errado com sua
alma.
Ao escutar as confidências dos tormentos das paixões que lhe faziam os amigos
ocasionais, dos tempos da escola militar e agora das turmas da universidade,
Victor comparava-as às suas próprias sensações e se reconhecia incapaz das
sensações que afligiam a maior parte de seus companheiros.
Muito embora conseguisse compreender a paixão carnal e encontrasse infinito
deleite com suas favoritas, entre as belas jovens das casas de prazeres que
frequentava regularmente, ou mesmo desfrutando os namoros fortuitos com
algumas jovens colegas, integrantes de famílias que se relacionavam com a
sua e que tinham um comportamento bem mais liberal do que seus pais
ousariam admitir, não se enganava e sabia perfeitamente que o que
experimentava nestes encontros de horas e noites, nada tinha a ver com o
amor profundo e sincero que poderia dar um significado a sua vida.
Este amor, Victor não conseguia encontrar.
Avaliava a alternativa de jamais formar uma família com mulher e filhos.
Seria um eterno solitário, um esquisitão incapaz da intimidade e do aconchego
do lar.
Mas esta imagem de um futuro árido, considerada um fracasso no estreito
leque de possibilidades vislumbradas como ideal para a sociedade em que se
inseria, para Victor não se mostrava tão terrível e talvez fosse até confortável
na sua avaliação íntima consciente. Uma situação a qual ele se ajustaria
perfeitamente e até com alguma coisa parecida com felicidade se não fosse por
uma desconfiança que se imiscuía em seu espírito ainda mais inquietante, um
defeito de sua alma ainda pior. Uma completa e incorrigível falta de empatia
pela totalidade dos seus semelhantes e o monstruoso enfado que era o único
sentimento que as pessoas conseguiam despertar nele.