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Às vezes o resultado adquirido por saltos se prova imediatamente
como verdadeiro e fecundo do ponto de vista de suas conseqüências.
Um cientista genial é conduzido por um pressentimento justo? Sim,
ele vê precisamente possibilidades sem apoios suficientes: mas sua
genialidade se mostra no fato de considerar semelhante coisa como
possível. Ele calcula rapidamente o que quase pode demonstrar.
O mau uso do conhecimento — na eterna repetição das
experiências e da junção de materiais, quando a conclusão se impõe
imediatamente a partir de poucos indícios. Ocorre o mesmo em filologia: a
integralidade do material é, em numerosos casos, algo inútil.
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O que é moral não tem tampouco outra fonte senão o intelecto, mas
a cadeia de imagens em ligação opera aqui de outra forma do que no caso
do artista e do pensador: ela incita ao ato. O sentimento do semelhante, a
identificação, é certamente uma pressuposição necessária. Em seguida, a
lembrança de um sofrimento particular. Ser bom seria, portanto: identificar
muito facilmente e muito rapidamente. É, pois, uma metamorfose, tal como
com o ator.
Toda honestidade e todo direito procedem pelo contrário de um
equilíbrio de egoísmos: reconhecimento recíproco de não se comportar
erradamente. Logo, procede da prudência. Sob a forma de firmes
princípios isso toma outro ar: a firmeza de caráter. Contrastes do amor e do
direito: ponto culminante, sacrifício para o mundo.
A antecipação das possíveis sensações de desprazer determina a
ação do homem honesto: ele conhece empiricamente as conseqüências da
ofensa feita ao próximo, mas também aquelas da ofensa feita contra si
próprio. Em contrapartida, a ética cristã é a antítese: ela se baseia na
identificação de si mesmo com o próximo; fazer o bem aos outros é aqui se
fazer o bem a si próprio, compartilhar a dor dos outros é compartilhar sua
própria dor. O amor está ligado a um desejo de unidade.
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