Page 77 - Microsoft Word - FRIEDRICH NIETZSCHE - O Livro do Filosofo.doc
P. 77
Falo dos pré-platônicos, pois, com Platão 39 começa a hostilidade
aberta contra a civilização, a negação. Mas quero saber como se comporta
em relação a uma civilização presente ou vindoura a filosofia que não é
uma inimiga: o filósofo é aqui o envenenador da civilização.
Filosofia e povo. — Nenhum dos grandes filósofos gregos arrasta o
povo atrás dele: isso foi sobretudo pesquisado por Empédocles (a seguir,
por Pitágoras), contudo, não com a filosofia pura, mas com um veículo
místico desta. Outros afastam o povo a priori (Heráclito). Outros têm como
público um círculo muito distinto de espíritos cultos (Anaxágoras). Aquele
que possui ao máximo a tendência democrática e pedagógica é Sócrates: o
resultado disso é a fundação de seitas, portanto, uma prova do contrário. O
que esses filósofos não conseguiram, como conseguiriam outros menos
grandes? Não é possível fundar uma civilização popular baseada na
filosofia. Assim, com relação a uma civilização, a filosofia nunca pode ter
uma significação fundamental, mas sempre apenas uma significação
acessória. Qual é esta última?
Domínio do mítico: fortalecimento do sentido da verdade contra a
ficção livre, vis veritatis (força da verdade) ou fortalecimento do
conhecimento puro (Tales, Demócrito, Parmênides).
Domínio do instinto do saber: ou fortalecimento do místico-mítico,
de tudo o que é arte (Heráclito, Empédocles, Anaximandro). Legislação da
grandeza!
Destruição do dogmatismo rígido:
a) na religião;
b) nos costumes;
c) na ciência.
Corrente cética.
Toda força (religião, mitos, instinto do saber) tem, quando é
39 Platão (427-347 a.C.), filósofo grego, discípulo de Sócratesz dentre suas obras, A república já foi
publicada nesta coleção da Editora Escala (NT).