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Guilherme, 6 anos, parecia estar triste nas aulas de música, já
tínhamos observado isso. Muitas vezes ele escolhia não
participar das brincadeiras, ficava sentado no canto da sala,
com um semblante desanimado. Nas fotografias ele
costumava sair de braços cruzados e quase sempre com um
boné e o capuz do moletom ajudando a esconder seu rosto.
Essa cena incomodava demais a mim e ao Pedro, professor
de música. Ficávamos imaginando o que ele deveria estar
pensando, supúnhamos algum problema trazido de casa,
mas ao mesmo tempo sempre tentando respeitar o processo
dele e entendendo o seu tempo.
Há alguns dias ele pediu ao professor para tocar o Cajon, um
instrumento de percussão ainda não usado nas aulas para o
primeiro ano. Foi naquele instante que descobrimos que
Guilherme tocava com segurança e alegria. Se bem me
recordo aprendeu por conta de um tio ou um irmão que
tocam numa banda.
Pedro convidou o menino para tocar com ele. Enquanto
Pedro assumia o piano, ele estava ao seu lado, atento e
dedicado tocando o cajon. A partir desse dia, Guilherme
tirou o capuz da frente do rosto e passou a sorrir.
Agora, nas aulas de música ele brinca, aproveita, sente
orgulho do seu lugar e participa - ora ele se coloca para
ajudar o professor a conduzir o ritmo, ora ele escolhe se juntar
aos colegas para cumprir a tarefa ou o desafio da
brincadeira.
Quanta coisa ele nos ensinou. O aprendizado pode estar nas
sutilezas, precisamos estar atentos para saber ouvi-las. Elas
nos ensinam! A criança ensina!
Diário de campo, 18 de junho de 2019