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Renata, professora de Artes Visuais, preparou uma aula para
as turmas dos segundos anos do Ensino Fundamental em que
o tema era paisagem.
No dia anterior, ao me passar o planejamento dos slides, a
programação da aula e me dizer onde pretendia chegar
com as crianças, Renata comentou sobre uma das obras
que selecionou, de Rachel Whiteread – uma instalação em
que a artista trabalha com os espaços preenchidos, com as
questões do cheio e do vazio. São trabalhos poéticos e
sensíveis.
Será que as crianças vão entender? Será que não vai ser
muito abstrato pra elas? Vai dar pra entender a relação com
o tema paisagem? As perguntas eram muitas, mas era
preciso testar.
A aula caminhou bem, com a participação sempre
empolgante das crianças que gostam e querem interagir
com todas as imagens – dizer o que estão vendo ou contar
uma história que despertou a partir delas. Mas ao escutarem
a história da obra de Rachel e verem as imagens, Amanda,
eufórica, levantou a mão pedindo para falar. A pequena
menina sintetizou perfeitamente dizendo: “ah, sim, entendi! É
igual quando a gente vai na praia e faz castelo de areia. A
nossa construção é o que a gente preenche lá dentro”.
Nossos olhos brilharam e o sorriso foi de orelha a orelha.
Amanda, de sete anos, deduziu o processo da artista e trouxe
para o contexto da turma com a simplicidade de uma
criança. São cenas como essa que viram histórias pra contar.
O aprendizado do dia marcou quando Renata comentou
concluindo “não devemos subestimar as crianças. Podemos
explorar sem medo o potencial delas, ele é enorme!”
Diário de campo, 6 de agosto de 2019