Page 7 - O Cavaleiro da Dinamarca
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bateram as doze badaladas da meia-noite, o Cavaleiro julgou ouvir, num
cântico altíssimo cantado por multidões inumeráveis, a oração dos Anjos:
«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade».
Então desceu sobre ele uma grande paz e uma grande confiança e,
chorando de alegria, beijou as pedras da gruta.
Rezou muito, nessa noite, o Cavaleiro. Rezou pelo fim das misérias e
das guerras, rezou pela paz e pela alegria do mundo. Pediu a Deus que o
fizesse um homem de boa vontade, um homem de vontade clara e direita,
capaz de amar os outros. E pediu também aos Anjos que o protegessem e
guiassem na viagem de regresso, para que, daí a um ano, ele pudesse
celebrar o Natal na sua casa com os seus.
Passado o Natal o Cavaleiro demorou-se ainda dois meses na Palestina
visitando os lugares que tinham visto passar Abraão e David, os lugares
que tinham visto passar a Arca da Aliança, o cortejo da Rainha do Sabá e
seus camelos carregados de perfumes, os exércitos da Babilónia, as legiões
romanas e Cristo pregando às multidões.
Depois, em fins de fevereiro, despediu-se de Jerusalém e, na companhia
de outros peregrinos, partiu para o porto de Jafa.
Entre esses peregrinos havia um mercador de Veneza com quem o
Cavaleiro travou grande amizade.
Em Jafa foram obrigados a esperar pelo bom tempo e só embarcaram
em meados de março.
Mas uma vez no mar foram assaltados pela tempestade. O navio ora
subia na crista da vaga ora recaía pesadamente estremecendo de ponta a
ponta. Os mastros e os cabos estalavam e gemiam. As ondas batiam com