Page 9 - O Cavaleiro da Dinamarca
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sobre estacas, era nesse tempo uma das cidades mais poderosas do mundo.
Ali tudo foi espanto para o dinamarquês. As ruas eram canais onde
deslizavam estreitos barcos finos e escuros. Os palácios cresciam das
águas que refletiam os mármores, as pinturas, as colunas.
Na vasta Praça de São Marcos, em frente da enorme catedral e do alto
campanário, o Cavaleiro mal podia acreditar naquilo que os seus olhos
viam.
Aérea e leve a cidade pousava sobre as águas verdes, ao longo da sua
própria imagem.
Passavam homens vestidos de damasco e as mulheres arrastavam no
chão a orla dos vestidos bordados. Vozes, risos, canções e sinos enchiam
o ar da tarde.
Nunca o Cavaleiro tinha imaginado que pudesse existir no mundo tanta
riqueza e tanta beleza. Não se cansava de olhar os degraus de mármore, os
mosaicos de oiro, as solenes estátuas de bronze, as águas trémulas dos
canais onde
se refletiam as leves colunas dos palácios cor-de-rosa, as pontes, os muros
cobertos de sumptuosas pinturas, as igrejas e as torres. A cidade parecia-
lhe fantástica, irreal, nascida do mar, feita de miragens e reflexos. Era igual
às cidades encantadas que as fadas fazem aparecer no fundo dos lagos e
dos espelhos.
O Mercador alojou o Cavaleiro no seu palácio e em sua honra
multiplicou as festas e os divertimentos. Durante o dia percorriam de
gôndola a cidade. Penetravam nas igrejas cobertas de mosaicos e pinturas
e paravam nos mercados onde se vendiam aves raras, rendas, tecidos do