Page 147 - REVISTA MULHERES - 22º EDIÇÃO - EXCLUSIVA
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importa é poder realizar ações sociais,
mantendo atenção ao meio ambiente e
a contribuição com essas pessoas. Que
não seja uma gran-de mudança, mas
que o ato de partilhar aconteça. O outro
é alguém como nós!
LM – Neste período de quatro anos, po-
de-se dizer que se tornou próximo des-
tas famílias?
MF – Como estou em contato há bas-
tante tempo com estas famílias, eu per-
Foto: Ari Morais alimento. Elas querem alguém que as
cebo que elas necessitam mais do que
ouçam, alguém que conversem com
elas. Quando eu chego com as cestas e
pergunto “como está?”, suas Histórias
fazendo doação das peças, como ação social para instituições como igrejas e associa- começam a ser contadas. O ser humano
ções cuidadoras de animais, para que se transformem em fonte de arrecadação. está carente de relacionamento e com
a pandemia isso se agravou e termos
LM – Suas peças seguem algum padrão? a possibilidade de acrescentar algo de
MF – Não. Não sigo nenhum tipo de padrão, não é nada programado. Cada peça é única, bom na vida de alguém, estamos na ver-
com uma pegada diferente. Até então a fotografia era o que me permitia um olhar artís- dade fazendo algo por nós.
tico que eu trouxe para minhas peças. Nunca me vi fazendo isso até aquele momento
“bendito” (se referindo à peça vista no domingo do churrasco na casa de seu amigo). LM – Além das cestas, você faz outras doa-
ções. Como é isso?
LM – Você já expôs seu trabalho. Como foi a experiência? MF – Ah sim! Todo mês eu compro as
MF – Já fiz duas exposições pela Fundação Cultural de Uberaba e na segunda acres- bases para amaciante de roupa e água
centei um projeto de inclusão social, levando cinco instituições de caridade para sanitária e transformo em litros que en-
visitar com transporte e alimentação gratuitos. Cada peça tinha o título de um poe- trego junto com as cestas e para a Casa
ma e assinatura de Carlos Drumond de Andrade. Nesta exposição ocorreu um fato de Acolhimento São Pio e para a Co-
interessante, como minhas peças são tocáveis, as crianças do Instituto dos Cegos pu- munidade Nova Jerusalém. Gostaria de
deram “conhecê-las” e uma criança com seus cinco anos se destacou. Ela, segurando ajudar mais, mas de qualquer maneira
a minha mão, me conduziu até um quadro que ela gostou muito. Tratava-se de um estou fazendo a minha parte.
quadro com uma flor e uma torneira que simbolizava a água com bolinhas de gude.
Dei a ela a peça. A atitude daquela criança me emocionou! LM – Você pode dizer que este trabalho te
fez uma pessoa melhor?
LM – Como sua atividade foi se desenvolvendo ao ponto de sua arte se tornar alimento? MF – Sim. Modifica, com certeza. Hoje
MF – Tenho meu ateliê há quatro ano e minhas peças são trocadas por cestas de há tanta ganância, indiferença e experi-
alimento e dependendo do quadro são as quantidades de cestas que variam entre mentar este trabalho de doação é gra-
duas e cinco cestas e o gasto com materiais para a produção é meu. O que me tificante. Gostaria que esta experiência
pudesse chegar a várias pessoas. Se cada
um fizer um pouco, a soma será sempre
Foto: Ari Morais quando ao nosso lado é gritante a neces-
grande. Muitas vezes se vê à distância
sidade de acolhimento e o valor de uma
cesta pode ser diferença entre alimentar
ou não uma família. A fome provém da
falta de alimento e podemos modificar
isto. É uma questão de escolha.
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Maurício Araújo Farias
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