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de  nos  manter  seguros em  virtude  da  pandemia.  Dr. Alan   patia e a alteridade. Os adolescentes começam uma jornada de
               Teo, professor associado de psiquiatria da Oregon Health   busca pela identidade, descobertas, prazeres e encontram isso
               and Science University, em Portland afirma que o que mui-  em grupos com interesses parecidos e nas relações sociais.
               tas pessoas podem passar, depois de viver em uma pandemia   As crianças menores de 11 anos têm, ainda pela frente,
               por um ano é ansiedade, que é uma emoção normal e apro-  um tempo para serem acompanhadas e integradas aos gru-
               priada de se sentir quando confrontada com um evento tão   pos sociais. Não há urgência, apesar de também haver perdas.
               traumático.  Sentir  ansiedade  não  significa  que  você  tenha   Mas e os nossos adolescentes?
               um distúrbio ou síndrome, disse ele. E é dessa forma que   “Nesse período em que os adolescentes estiveram afas-
               precisamos encarar a “Síndrome da Gaiola” aqui no Brasil.  tados uns dos outros e a interação com os amigos, as expe-
                  Nossos filhos em casa têm vivenciado muitos desafios e   riências que acontecem a partir dessas experiências, festas,
               acompanhado de perto muitos dramas em família. Esse perí-  viagens, namoros e conflitos não ocorreram. Houve perdas
               odo tem exigido de nós um olhar mais carinhoso, fraterno e   importantes em termos de desenvolvimento, então eles saem
               compreensivo para nós mesmos e para todos ao nosso redor.   da pandemia ou iniciam uma retomada das atividades de
                  E aí vem o dilema da volta às aulas presenciais, incentivá  uma forma gradual, na medida em que pandemia está mais
               -los ou não a frequentarem a escola?                 ou menos controlada, com perdas e com déficits”, afirma o
                  Ficar em casa tem sido agradável para muitos adolescen-  Doutor Guilherme Polanczyk.
               tes. É muito cômodo estar em casa, mas esta permanência   Os jovens precisam usufruir da liberdade e independên-
               tem influenciado negativamente o amadurecimento e o de-  cia, para testarem as possibilidades, terem autonomia para
               senvolvimento das necessárias relações pessoais. Nos grupos   fazerem suas escolhas, que são muito importantes para o
               que acompanho, alguns pais relatam a indignação de verem   desenvolvimento da identidade de cada um deles. Mas, di-
               os filhos despreocupados e acomodados com o fato de esta-  ferentemente  do  que  pensávamos  que  poderia  acontecer,
               rem em casa. Outros pais, narram conversas dos filhos, exal-  neste momento de pandemia, de isolamento social, muitos
               tados e eufóricos com a possibilidade dos reencontros, na   dos nossos jovens ficaram resignados e acomodados. Aque-
               volta às aulas. E, dentre estes, muitos temem pela contami-  les adolescentes agitados, falantes, cheios de compromissos
               nação dos filhos e deles próprios.                   sociais, idas ao shopping, futebol, agora se limitam ao quarto,
                  O fato é que nossos filhos precisam do convívio e a escola   às séries, ao bate-papo online.
               é a sua primeira rede social, fora do convívio familiar.   Seria medo, insegurança ou simples acomodação?
                  Ter amigos faz bem à saúde física e mental. Crianças pre-  Alguns jovens que passaram por eventos de muito estresse
               cisam de outras crianças, para aprenderem a se relacionar. É   devido ao Covid-19 ficaram marcados negativamente e permi-
               assim que começam as interações, quando são testadas a em-  tiram que se abalassem por medo e insegurança. Fato é que,


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