Page 53 - 20ª EDIÇÃO REVISTA MULHERES - ALTA RESOLUÇÃO
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nheiro e tem recebido o apoio de outras Agnes Maria é uma das responsáveis. Aliás, ela, que também é jornalista e
mulheres, algumas das quais também estudante de história, organiza um curso online de comunicação antirracista.
foram vítimas de violência. A proposta é ensinar comunicadores e produtores de conteúdo a fazer uma
No salão de Thais, Carla diz ter análise crítica das narrativas racistas. “Pretendo mostrar que existe um histó-
se sentido acolhida. Não por acaso. rico comprovadamente racista, mas há outras maneiras de se comunicar que
Além de carismática e cheia de empa- o profissional pode inserir em seu cotidiano de trabalho”, explicou.
tia, Thais Nascimento é referência de Agnes compartilhou um pouco da sua própria trajetória como profis-
empreendedorismo negro em Uberaba. sional da comunicação e revelou só ter encontrado direcionamento ao co-
No início deste ano, a empresária foi um nhecer filosofias que representam sua forma de existir: “Minha comunicação
dos destaques do ELA PODE, evento é quilombola, se faz em conjunto, em roda como nas sociedades africanas,
de capacitação do Instituto Rede Mu- se pede licença à ancestralidade, por respeito aos que vieram antes de nós”,
lher Empreendedora, financiado pela contou. “Se faz baseada na espiritualidade, porque nós apenas permanece-
Google. A um auditório lotado, na Uni- mos em pé quando unimos os três pilares, “corpo, mente e espírito”. Ou seja,
versidade Federal do Triângulo Mineiro, está baseada no Orixá da comunicação, Exu, que é o responsável por levar os
a jovem arrancou aplausos ao contar a anseios da humanidade aos pés de Orunmilá, o senhor do destino”, revelou.
sua história, dificuldades e vitórias. Agnes não fala de religiosidade, mas de tecnologias africanas para a
Mas, o que mais chama a atenção manutenção do existir. “Enquanto profissional, acredito que esses valores
é que, além de muito jovem, bela e com- que possuem uma matriz africana podem ser inseridos em nosso contexto,
petente, Thaís teve uma infância sofrida desde que possamos respeitar e conhecer outras culturas”.
e conta que renasceu após o divórcio. As palavras de Márcia chegam para encerrar a roda. Às pessoas negras,
Basta conversar um pouco com ela para ela quer dizer: “Resistência e união. Ninguém larga a mão de ninguém. Aqui-
perceber a conexão de Thais com o ele- lombamento. Beber na fonte da ancestralidade para buscar forças em tempos
mento “mineral” tal como o ensinado difíceis. Infelizmente, não participaremos de uma sociedade onde nossos fi-
por Sobonfu como algo que nos ajuda lhos caminharão sem medo, mas lutaremos para que os filhos dos nossos
“a lembrar nosso propósito e nos dá os filhos vivam dias melhores, assim como fizeram nossos ancestrais”.
meios para nos comunicar e compre- Salve!
ender o que os outros estão dizendo.
“Quando atendo minhas clientes, ten-
to despertar o melhor delas, fazer com
que vejam que existe um horizonte, que
a dor tem um propósito que é nos fazer
evoluir”, contou.
Pretta Moreno também é uma
mulher marcada pela força dos elemen-
tos que formam o universo. Como atriz
e arte-educadora, ela busca através da
arte, levar e saudar a sua ancestralidade.
“Sempre trabalhei na periferia e com o
teatro tento, numa linguagem simples,
levar a importância de sermos quem
somos, quando uso meu corpo, minha
voz e meu estudo em cima de um pal-
co é com a certeza de que levo para as
pessoas a potência da mulher preta e
sua importância na sociedade”, expli-
cou. Pretta já demonstrou seu talento
de atriz e diretora recebendo prêmios
em diversos festivais de teatro da cida-
de e tem inspirado cada vez mais outras
mulheres, em uma rede de apoio, coo-
peração e troca, entre tantas outras que
surgiram em Uberaba nos últimos anos.
Uma dessas redes de apoio é jus-
tamente o coletivo Afrontar-se do qual Thais Nascimento
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