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ao ensino presencial, o que, a meu ver,
é hoje uma temeridade”, analisa.
Clayton faz ainda uma distin-
ção entre o ensino remoto, realizado
atualmente na pandemia, e o ensino à
distância (EaD), esse último contando
com sistemas e plataformas específi-
cas. Ele acredita também que o EaD
poderia ter importância estratégica no
desenvolvimento civilizacional do país
se a educação fosse tratada a partir de
sua dimensão pública.
Em vez disso, avalia que tanto
o EaD quanto o atual ensino remoto
apenas estariam provocando o rebaixa-
mento da qualidade do ensino. Ou, em
suas palavras, resultando “em notório
prejuízo programático e metodológico,
em uma forma de rebaixamento da pro-
dução do conhecimento em relação ao
que fora inicialmente proposto”. Maria Rita Nascimento
Também a professora Maria Rita trabalho. Mas, em vez disso, acaba solidificando ainda mais as di-
Nascimento ressalta que a pandemia ferenças sociais.
apenas evidencia as desigualdades. De Isso estaria ocorrendo porque durante o isolamento so-
acordo com ela, a escola deveria ser es- cial, a educação privada segue oferecendo aulas remotas através
paço para reduzir as diferenças sociais das tecnologias e com o apoio das famílias. Por outro lado, a re-
e abrir caminhos para democratizar a alidade da grande maioria das escolas públicas, principalmente
informação. Consequentemente, de- nas periferias, é outra. “Muitas famílias não têm acesso às tecno-
veria permitir o acesso ao mercado de logias, são pessoas com pouca escolaridade ou analfabetas”, diz.
Para Maria Rita, o grande desafio não está nas tecnologias - que
são, inclusive, bem-vindas - mas nessa dualidade social.
A professora particular de inglês, Brunna Gonçalves Le-
ôncio, também percebe dificuldades no ensino remoto. Segun-
do ela, os pontos negativos de se ter aulas online é que, na maio-
ria das vezes, os alunos desempenham simultaneamente várias
outras atividades. Além disso, segundo ela, ficar tanto tempo
na frente de uma tela causa mais desgaste do que as atividades
presenciais. “Isso sem falar nos problemas técnicos, sobretudo
causados por problemas de conexão com a internet, que podem
atrapalhar a fluidez das aulas”, comenta.
Embora atue no setor privado, ela reconhece que o ensino
remoto é para poucos. “Um projeto de alfabetização que eu re-
alizava com alunos do ensino fundamental, por exemplo, preci-
sou ser descontinuado, já que eles não possuíam as ferramentas
necessárias para isso”, confessa.
Mas a jovem ressalta que também há pontos positivos,
como a descoberta de ferramentas melhores e o uso de diferen-
tes mídias. “Um aprendizado de como aproveitar melhor as tec-
nologias, que com certeza será continuado mesmo depois que
as atividades presenciais puderem ser retomadas”, analisa. “O
principal aprendizado que tirei desse modelo é que online ou
presencialmente, cada indivíduo tem uma jornada própria de
aprendizagem”, reflete.
Brunna Gonçalves Leôncio
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