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Liana Marzinotto – Qual foi seu primeiro trabalho?
Eduardo Semerjian – A primeira vez que eu coloquei
meus pés em um palco foi na peça “Um Meio em Três
Quartos”, em 3 de abril de 1992. Essa peça era uma
compilação de três contos: um do romancista Rubem
Fonseca, chamado “O Caso de F A”; um do japonês Ryo-
nosuke Akutagawa, chamado “No Bosque” e um conto
do dramaturgo Luigi Pirandello, “A Luz da Outra Casa”.
Éramos um dos núcleos do grupo de pesquisa de tea-
tro de São Paulo chamado o Boi Voador. Nossos ensaios
duraram um ano e meio e a temporada da peça durou
apenas quatro meses e acabou (risos).
Liana Marzinotto – No seu extenso currículo constam
atuações em teatro, televisão e séries. Fale um pouco do
seu trabalho.
Eduardo Semerjian – Por decisão pessoal, passei a déca-
da de 90 fazendo somente teatro (minha predileção). Duas
peças foram especiais: “Caros Ouvintes”, escrita e dirigida
por meu grande parceiro artístico Otávio Martins e “A Bala
na Agulha”, da mineira Nana de Castro, também dirigida
pelo Otávio. Nesse período fiz alguns comerciais e um lon-
Foto: Cristiano Bizzinotto ga em 1994, chamado “16060” do Vinícius Mainardi, um
dos primeiros filmes produzido pós Era Collor.
A partir do ano 2000 comecei a fazer mais cinema.
Atuei em “A Cegueira”, “Minha Mãe é uma Peça-2”,
“Meus Pais”, um filme lindo, com Rodrigo Santoro, Dé-
bora Falabella e direção de André Ristum. Em 2005 fiz
minha primeira participação em TV, com “Carandiru
Liana Marzinotto – Depois de ter sido “quase” várias - Outras Histórias”, uma série para a televisão do filme
coisas, hoje você é ator. Como foi essa descoberta? “Carandiru”. Cada episódio contava a história de um
Eduardo Semerjian – Foi ao acaso! (risos). Eu estava personagem do filme, como é originalmente o livro. No
reunido com um grupo de uns 15 amigos em um bar ano de 2001, fiz “Nina” do Heitor Dhalia e em 2002 fiz
por ocasião da despedida de um deles, que iria se “Olga” do Jayme Monjardim.
mudar para a Alemanha. Estávamos em uma mesa Eu adoro também fazer série, no formato obra fechada,
grande e perto de mim vi um folheto sobre curso de com roteiro completo, onde é possível desenvolver a
teatro. Me interessei pelo curso, fiz minha matrícula trajetória do personagem ao longo dos episódios, como
e comecei a fazer. Eu sempre soube que queria fazer um quebra-cabeça. Há uma série que eu gostei mui-
algo relacionado ao corpo, à vida, só não sabia, até to de fazer! Foi a primeira série brasileira “O Negócio”
aquele momento, o que era. Este período era setem- (HBO), com quatro temporadas e eu participei de todas.
bro de 1990.
Liana Marzinotto – Podemos falar sobre sua vida pessoal?
Liana Marzinotto – E antes desse acaso, o que fazia? Eduardo Semerjian – Bora! (risos). Nunca quis me ca-
Eduardo Semerjian – Eu trabalhei em varejo na Sears sar, mas tenho uma filha, a Duda (Maria Eduarda) de 12
e na Mesbla. E um dia, chegando bem cedo na loja, anos. Dizem que ela “é a minha cara” e da minha mãe
estava sozinho no salão de vendas, olhei para aquele e eu tenho “a cara” da minha mãe, logo ... (risos). Tive
mar de produtos, de bicicletas, TVs, geladeiras e me uma irmã (falecida) do primeiro casamento do meu pai
perguntei: O que eu estou fazendo aqui? Decidi me e um irmão do segundo casamento dele. Após ficar vi-
demitir e indo a caminho para a sala da gerência, úvo, se casou com minha mãe e hoje somos três, eu, o
encontrei com um vitrinista, um rapaz novo e nesse Rafael e o Rodrigo. Meu pai faleceu em 1995 e minha
dia, ao passar por mim, ele me pegou pelo braço e mãe tem 80 anos e mora em São Paulo. Minha ligação
disse: Em três meses sua vida vai mudar e, em agosto, com minha mãe é muito boa. Admiro a compreensão
eu me matriculei no curso de teatro, com 24 anos. Já que ela tem sobre a vida. Minha mãe era lindíssima e na
fazem 30 anos que exerço a profissão de ator. década de 60 ganhou alguns concursos de miss.
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