Page 168 - REVISTA MULHERES_ULTIMA EDÇÃO
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CULTURA & ARTE
Cavaleiro Carlos Fred,
Phil, De Martius e
“O Milagre
da Vida” ILCEA BORBA MARQUEZ
Psicóloga e psicanalista. Membro
da Academia de Letras do Triângulo
Mineiro – ALTM
uando você entra na Catedral dos naturalistas bávaros, estudando o meio ambiente nacional e, de alguma
de Santarém/Pará - dedicada forma, se tornando admiradores e podemos mesmo dizer apaixonados pela ri-
Qà Nossa Senhora da Concei- queza e diversidade encontrada. Von Martius se tornou muito amigo do Brasil
ção, logo é atraído pelo belo crucifixo e do Imperador – D. Pedro II, recebeu incentivo e doação para elaboração e
de ferro fundido, em tamanho natural, publicação de sua tese “Viagem pelo Brasil” de Spix e Martius – Editora Itatiaia,
ereto, sobre o altar. Uma bela imagem, 2019 ainda hoje sendo reeditada. Em sua chácara de Dusseldorf, possuía bela
de um realismo impressionante, cuja coleção de palmeiras do Brasil e quando morreu, aos 74 anos de idade, teve sua
característica marcante podemos no- tumba recoberta pelas palmas das suas queridas palmeiras brasileiras.
minar como “O Milagre da Vida”, pois Na comitiva da Imperatriz Leopoldina vieram vários cientistas e dentre
normalmente “O Cristo Crucificado” eles Von Martius – membro da Academia Real das Ciências de Munich, que du-
é uma representação da morte, com rante os anos de 1817 a 1820, por ordem de Maximiliano José (Rei da Baviera)
a face do Redentor caída para direi- fez viagem cientifica pelo Brasil para estudar e conhecer as espécies nativas da
ta significando sua morte, mas o que flora brasileira. Este era o Novo Mundo, que deveria ser analisado também cien-
Von Martius queria testemunhar era tificamente pela ciência do Velho Mundo para ser mais bem aproveitado. Dessa
a dádiva alcançada através da Divina viagem resultou teses e publicações hoje à disposição de todos.
Providência na manutenção de sua Voltando à imagem do “Cristo Crucificado” de Von Martius erigido sobre
própria vida, num quase naufrágio o altar da Catedral de Santarém/Pará, dedicada à Nossa Senhora da Conceição,
vivido durante tempestade, velejando vemos ao lado a seguinte inscrição, também em ferro e letras em relevo, con-
pelo rio Amazonas. Este tem a cabe- tendo identificação e procedência da obra: “O Cavaleiro Carlos Fred, Phil, de
ça levantada, sua bela fronte erguida Martius, Membro da Academia R. das Ciências de Munich, fazendo de 1817 a
para o alto, os músculos do pescoço 1820, de ordem de Maximiliano José, Rei da Baviera, uma viagem cientifica pelo
retesados pelo esforço, os olhos súpli- Brasil, e tendo sido, aos 18 de setembro de 1819, salvo por misericórdia divina
ces mirando os céus, enquanto dos lá- do furor da ondas do Amazonas, junto à Vila de Santarém, mandou, como mo-
bios doloridos parecem brotar aquela numento de sua pia gratidão ao todo poderoso, erigir este crucifixo nesta igreja
interpelação ao Pai: - Meu Deus, Meu de Nossa Senhora da Conceição, no ano de 1846.” Por ela se verifica que o fa-
Deus, por que me desamparaste? moso temporal que levou o jovem Martius (tinha 25 anos na época) a prometer
Essa bela imagem tem sido o a imagem do Crucificado à igreja da vila tapajônica, teria ocorrido em dezoito
ponto alto de visitas turísticas dos que de setembro de 1819, em águas amazônicas, junto à Vila de Santarém. Em sua
passam por Santarém, sejam estran- passagem por Santarém, sentiu-se em eminente naufrágio e, naquele momento,
geiros ou não, naturalistas ou artistas pediu proteção aos céus e fez promessa à Divina Providência de uma doação à
e, mesmo intelectuais, todos compa- nascente paróquia de Santarém. É perfeita a imagem da dor e sofrimento físico
recem à catedral para admirar a obra, e moral, capaz de infundir aos mais empedernidos corações, sentimentos de
reconhecendo nela o fato histórico compaixão e piedade, de contrição e de fé, conforme, aliás, o desejava Martius.
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