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DOSSIÊ




             O capital, por meio da difusão de um

             novo léxico, contribui, de fato, para a

             construção de um novo senso comum,
             o qual é divulgado por meio dos

             documentos que passaram a regulamentar
             a reforma educacional iniciada na década

             de 1990 e que hoje se consolida





                   Também vale ressaltar que a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo,
            ao superestimar a gestão de pessoas, entrega aos funcionários da escola a responsa-
            bilidade pelo sucesso escolar, já que, para que haja maior remuneração, devem-se
            aumentar também as notas nas avaliações, e, para isso, esses funcionários precisam
            estar mais “engajados”, isto é, precisam ser mais produtivos para o capitalismo.
                   Essa estratégia de envolvimento dos trabalhadores da escola com os resulta-
            dos das avaliações demonstra outro aspecto das estratégias de disciplinamento dos
            trabalhadores na atualidade que é incorporado pelas políticas educacionais. Sobre
            esse aspecto, Antunes (2018) lança luz sobre as diferentes formas de absorção das
            energias humanas e da subjetividade do trabalhador, que acabam interiorizando a
            lógica competitiva entre os pares em detrimento das relações de solidariedade a que
            nos referimos anteriormente.
                   Trata-se, segundo Antunes (2018), de estratégias que promovem a intensifica-
            ção da alienação do trabalhador em relação ao resultado do seu trabalho e em relação
            ao outro. Ele é convocado, cotidianamente, a internalizar a função de gestor de si mes-
            mo e passa a desenvolver o autocontrole do seu trabalho e do trabalho alheio. Nesse
            sentido, o autor esclarece que:
                           Se, na empresa taylorista-fordista, o despotismo é mais explícito em sua con-
        Revista Princípios      nº 159     JUL.–OUT./2020  O último objetivo estratégico se centra em “aumentar a eficiência operacional
                           formação, e o estranhamento ou o modo de ser da coisificação acaba sendo
                           mais “direto”, na fábrica da flexibilidade liofilizada, diferentemente, as novas
                           técnicas de “gestão de pessoas”, as “colaborações” e as “parcerias” procu-
                           ram “envolver” as personificações do trabalho de modo mais interiorizado,
                           procurando converter os empregados “voluntariamente” em uma espécie de
                           autocontroladores de sua produção, em déspotas de si mesmos (ANTUNES,
                           2018, p. 109,grifos nossos).





            volta a aparecer entre os fundamentos do mapa, em utilizar os recursos públicos de forma
     200    com melhoria da qualidade do gasto público” (SÃO PAULO, 2019, p. 18). Esse objetivo
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