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Economia
De acordo com a estratégia novo-
desenvolvimentista, não há conflito entre
desenvolvimento do mercado interno e
estratégia de crescimento baseada nas
exportações, pois exportações aumentam o
emprego, os salários e o consumo interno;
ademais, estimulam a principal variável de
demanda, que é o investimento. Uma questão
central é que os produtores locais devem
ter acesso à demanda interna e externa, e
a variável-chave para conectá-los aos dois
mercados é a taxa de câmbio competitiva
Bresser-Pereira assinala que países de renda média que realizaram seu catch-
-up neutralizaram de alguma forma a tendência de sobrevalorização da taxa de câm-
bio. Na prática, vários países neutralizaram a doença holandesa de diversas formas,
com uso de taxas múltiplas de câmbio, tarifas de importação e subsídios às expor-
tações que implicavam um imposto disfarçado sobre as commodities. Bresser-Pereira
(2009, cap. 5) sugere especificamente a neutralização da doença holandesa por meio
de um imposto sobre a venda dos bens que lhe dão origem (o imposto deve corres-
ponder à diferença entre a taxa de câmbio de equilíbrio corrente e a taxa de câmbio
de equilíbrio industrial) e a criação de um fundo internacional com as receitas deriva-
das desse imposto, para evitar que o ingresso dessas receitas revalorize a taxa de câm-
bio, de modo a tornar as duas taxas de câmbio de equilíbrio razoavelmente próximas.
Nesse sentido, a ampliação do comércio exterior ocorrerá sob o acicate de
instituições que garantam a realização de uma política cambial que ligue as empre-
sas nacionais ao mercado interno e da ampliação da competitividade das empresas
nacionais nos mercados externos. Para isso, a implantação de um imposto sobre a ex-
portação de commodities, a rejeição de políticas e práticas que elevam a taxa de juros e
o gerenciamento de mecanismos de controle sobre a entrada e saída de capitais são Revista Princípios nº 159 JUL.–OUT./2020
elementos básicos da política cambial proposta.
Cabe assinalar que, segundo a estratégia novo-desenvolvimentista, a política
industrial tem um papel estratégico e complementar, não podendo ser substituta de
uma política macroeconômica adequada, baseada no equilíbrio fiscal, taxas de juros
moderadas, taxa de câmbio competitiva e taxa de lucro satisfatória para as empre-
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