Page 34 - A REFLEXÃO 2000 A 2020
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o alvo e o tiro certo sair pela culatra. Assim, devo observar o meio
         em que estou e utilizar as palavras mais adequadas a ele. Não adianta
         um diálogo culto e erudito em um bate-papo mais descontraído, sua
         dialética será uma chatice e alguém achará você um nerd.
                Muitos poderão ter o conceito de que autoconhecimento
         esteja ligado à cultura intrínseca de um indivíduo. Bem, ter cultura é
         muito bom, mas saber física quântica ou dominar os segredos da
         biodiversidade, não são pré-requisitos para uma busca interior.
         Entender bem um idioma, tanto no seu falar como na sua escrita,
         não abrem a porta existencial do entendimento humano, já olhos
         bem abertos mostrarão a você, muito mais que simples e reluzentes
         botões dourados.
                Falar e ser compreendido, ouvir e entender o que foi dito são
         fundamentos de grande valia à busca interior. Mesmo que não aceite
         o dito, deveremos compreendê-lo. O ponto de vista de quem fala
         deverá ser respeitado, devemos, inclusive, concordar com as opiniões
         dos outros, mesmo sendo diferentes ou contrárias a nossa e aceitar
         que os outros não concordem com nossa ótica: “Entendi tudo que
         você disse, não concordo com nada, tudo bem. Garçom, outra
         cerveja!”
                Devemos buscar incansavelmente o diálogo e não a tentativa
         de convencer o outro de que o nosso ponto de vista é o certo e o do
         outro errado, neste ponto, a ética, na visão de cada ser, terá um papel
         isolado e delicado, onde deveremos medir as consequências de
         nossas palavras a um outro ser. Eu acho que estou certo, ele acha que
         está certo, ambos poderão estar errados.
                Discussões sobre ética e sobre moral são pesadíssimas.
         Quando comento com um amigo que fumar é um hábito horrível e
         que deveria parar imediatamente de fumar, ele poderá até me
         entender e não parar o vício, mas caso seu amigo fume maconha,
         tentar fazê-lo entender o quão destrutivo seu vício é, será uma
         batalha apoteótica. O fumo, perante a sociedade, tem seu grau
         ético avaliado de uma maneira menos destrutiva, foi até
         charmoso nos anos 60 e 70, já a maconha, é vista negativamente em
         todos os sentidos, apesar dos seus defensores alegarem que ela é
         menos nociva que o cigarro. Não importa quem é mais ou menos



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