Page 61 - Revista FRONTAL - Edição 50
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UPGRADE IN PROGRESS?
Quando é que deixamos de ser humanos?
Num nível muito básico, biohacking resu- Surgem então questões: porquê parar Ao nos tornarmos cada vez mais “perfeitos”,
me-se a algo com o qual, intrinsecamente, to- aqui? Por que não procurar obter o desem- podemos criar uma sociedade em que toda a
dos nós podemos relacionar: o desejo de nos penho máximo? Por que não tentar viver para gente sinta pressão social para alterar a sua
sentirmos melhor e de descobrir até que nível sempre? O que começa como um simples biologia. Nesta situação, recusar um biohack
podemos elevar o corpo humano. No entanto, desejo de nos vermos livres da doença significaria estar em grande desvantagem pro-
esse desejo vem em muitas formas. Alguns de pode transformar-se num “auto-aperfei- fissional ou enfrentar condenação moral por
nós querem ser os mais inteligentes e os mais çoamento em esteróides”. permanecer abaixo do ideal definido.
fortes. Outros, querem ser os mais inteligentes Efetivamente, com mudanças significati- Num mundo de super-humanos, pode
e os mais fortes, durante o máximo de tempo vas correm-se riscos significativos. E se estes tornar-se cada vez mais difícil permanecer
possível – ou seja, querem aumentar drastica- "upgrades" não forem distribuídos uniforme- "meramente" humano.
mente a sua esperança média de vida. Que- mente pela população humana? Poderemos
rem tornar a “ficção científica” em “realida- vir a ter diferenças biológicas baseadas nas
de científica”. Mas a que preço? desigualdades económicas? Será formada
Suplementos, crioterapia, neurofeedback, uma lacuna ainda maior na esperança de vida,
saunas de infravermelhos, transfusões de san- entre a classe alta e as classes média e baixa?
gue jovem, próteses a simular poderes super-
-humanos, implantes subcutâneos de chips de
computador… As opções são ilimitadas. Cada
vez mais começamos a ver o que dantes era
apenas uma ideia de um livro esquecido numa
biblioteca a poder fazer parte da nossa realida-
de, em pleno século XXI.
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