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O DIÁLOGO COM A ARQUITETURA
Análise e interpretação dos dados não estaria a princípio relacionada com a atividade
comercial da loja.
De um universo de 57 imóveis pesquisados na área, em
19 imóveis (33%), encontramos ladrilhos hidráulicos. Em 67% dos casos (em 38, dos 57 imóveis pesquisados),
utilizou-se outro tipo de piso e não o ladrilho hidráulico.
Dessa amostra, em 11 foram encontrados ladrilhos
Em linhas gerais, o piso utilizado nas áreas de acesso e
hidráulicos apenas nas áreas de acesso e circulação; em
circulação desses imóveis sem ladrilho hidráulico era
quatro, nas áreas de circulação e em outros cômodos; e
predominantemente cimento alisado à colher.
em um, no subsolo; além dos três encontrados fora do
seu contexto.
Observamos que na maioria dos imóveis (11), os Por que então a presença do ladrilho hidráulico
ladrilhos foram encontrados nos acessos e corredores nos 19 imóveis?
de circulação e não em cômodos que demandariam um
custo maior e de menor visibilidade , como banheiros A pesquisa arqueológica em outros locais nos fornece
e cozinhas. Nesses cômodos, encontramos geralmente algumas pistas. Em Rhode Island, nos EUA, a pesquisa
cimento alisado à colher e tacos de madeira, materiais arqueológica de Mrozowski (2000) comprovou que
menos onerosos. a manutenção de jardins em frente às residências da
classe gerencial de uma fábrica oitocentista era um
Sabemos que o ladrilho hidráulico, por possuir um
recurso utilizado por esse grupo para se diferenciar dos
valor agregado maior, era utilizado no interior das
operários de “chão de fábrica”.
casas das famílias mais abastadas, como podemos
verificar no atual Palacete das Artes (Museu Rodin), no Segundo Wall (2000), em Nova Iorque, no mesmo
bairro da Graça, outrora residência da família Martins século, a análise de louças associadas ao hábito de
Catarino. Para fins analíticos, isso pode sugerir que a tomar chá sugere que as donas de casa de classe média
ausência do ladrilho no interior dos imóveis por nós alta, em comparação com contemporâneas de classe
pesquisados seja um reflexo de possíveis limitações média baixa, poderiam estar usando seus pratos em
financeiras dos proprietários. “ostentação competitiva, para impressionar suas amigas
e conhecidas com a nobreza refinada de sua família”.
O caso do imóvel de número 24, na ladeira da Praça,
com ladrilho hidráulico no subsolo, destoa do restante. Na área que estudamos, com o esvaziamento das
Ele também apresenta pintura mural no subsolo, o classes abastadas durante a primeira metade do século
que, junto com a presença do azulejo, demonstra uma XIX (Nascimento, 1986), e influenciados pela opulência
preocupação pouco comum com o embelezamento arquitetônica de prédios como os da antiga Faculdade
desse pavimento. Uma análise arquitetônica preliminar de Medicina e do Tesouro Estadual, uma parcela da
164 sugere ter sido uma loja durante o período de enfoque população de poder aquisitivo mais modesto, que aos
do estudo; portanto, essa ornamentação do subsolo poucos passou a residir na região – e que ainda nela
ArqueologiA no Pelourinho