Page 129 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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A descida ao recife foi serena, quase solene. O silêncio ali não era ausência
    de som — era presença de respeito. A água, surpreendentemente clara, parecia en-
    volvê-los  com  uma  leveza  diferente,  como  se  o  próprio  oceano  aprovasse  aquele
    gesto.


           Miguel desceu primeiro, guiando a equipe até o local marcado com as coor-
    denadas. Ali, entre formações rochosas antigas cobertas por musgos marinhos, des-
    cobriram uma cavidade natural. Tinha o formato de um abrigo — como se tivesse
    sido esculpida ao longo do tempo, esperando por aquele momento.


           Lívia segurava a cápsula com as duas mãos, os olhos firmes por trás da más-
    cara de mergulho. Ela se aproximou com lentidão, respeitando o tempo do lugar.
    Antes de encaixá-la, parou por um segundo. Fechou os olhos e pensou em tudo que

    havia aprendido desde a primeira vez que mergulhara ali: os mistérios, os perigos,
    os sinais… e as vozes. A cápsula foi então depositada com delicadeza, como quem
    entrega algo sagrado.


           No mesmo instante, um pequeno cardume surgiu das sombras. Peixes colo-
    ridos, de espécies diversas, como se convocados por um chamado invisível. Eles gi-
    ravam em círculos, lentamente, ao redor da cápsula — uma dança silenciosa. Não era
    reação instintiva. Era testemunho.
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