Page 14 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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Entre os tons vibrantes, Lívia notou áreas apagadas, sem cor, manchas acin-
zentadas, irregulares, quebravam a harmonia do quadro natural, como cicatrizes
numa pele viva.
Ela franziu a testa.
“Áreas mortas...”, sussurrou, quase sem perceber. Eram zonas onde os corais
haviam morrido, sufocados pela poluição, pela elevação da temperatura da água ou
pelo avanço silencioso da acidificação dos mares. Zonas de silêncio. Sem peixes. Sem
cor. Sem vida.
Um arrepio percorreu sua espinha. Aquelas ilhas tão belas guardavam tam-
bém sinais de destruição. O paraíso estava pedindo socorro.
E ali, olhando pela janela do avião, com o caderno no colo e o coração aper-
tado, Lívia entendeu que aquela viagem talvez fosse mais do que uma simples visita
— talvez fosse o início de uma missão.
Quando o avião pousou na pista de terra batida da ilha principal, o impacto
suave das rodas na pista foi seguido por um breve silêncio — o tipo de silêncio que
antecede o novo. Lívia olhou pela janela uma última vez antes de o motor desligar.
Lá fora, o mundo parecia diferente.
Ao descer pela escadinha de metal, sentiu no rosto uma brisa quente e sal-
gada, que vinha do mar e trazia consigo o cheiro da aventura. O ar era denso, carre-
gado com o perfume das flores tropicais que brotavam ao longo da vegetação ras-
teira. Uma mistura de sal, sol e terra. O tipo de cheiro que a gente nunca esquece.