Page 25 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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— Meu avô dizia que cada concha guarda a memória do mar — explicou, co-
    locando uma delas na mão de Lívia.


           — E que se a gente ouvir com atenção, pode escutar histórias antigas... ou
    pressentir quando o oceano está doente. O som muda. Fica mais fraco.


           Lívia levou a concha ao ouvido. Por um instante, o mundo ficou em silêncio.
    Só ela, a brisa e o mar dentro daquela pequena concha espiral.


           — E como está agora? — perguntou Lívia, com os olhos atentos.


           Noah pegou uma das conchas do saquinho, encostou delicadamente no ou-
    vido e fechou os olhos. O silêncio durou alguns segundos, até ele abrir um pequeno
    sorriso, não de alegria, mas daqueles que carregam saudade.


           — Está sussurrando alguma coisa... está pedindo ajuda — disse, com a voz
    quase tão baixa quanto o próprio mar.


           Lívia se voltou para a janela. O céu já ganhava tons de laranja e púrpura, e o
    mar lá fora parecia tão grande quanto o mistério que ela sentia crescer por dentro.


           Naquela noite, deitada em sua rede, com o barulho das ondas misturado ao
    canto dos grilos, abriu o caderno e escreveu com lápis azul:


           "As cores do paraíso estão se apagando. Mas ainda há tempo. Eu vi espe-
    rança nos olhos de uma tartaruga. E num menino que ouve conchas.”


           Fechou os olhos, segurando o caderno junto ao peito, o reino silencioso es-
    tava tentando falar, ela agora estava pronta para ouvir.
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