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Invicta Film


                     Demonstrada, com o filme “As Aventuras de Frei Bonifácio”, a capacidade dos técnicos contratados em
               França, a empresa não espera pela construção dos estúdios e e laboratórios do Carvalhido para prosseguir
               com a produção de filmes de enredo. É assim que, em princípios de 1919, entra em rodagem uma fita mais
               ambiciosa, adaptação de um romance muito popular de Manuel Maria Rodrigues: “A Rosa do Adro”. Pensa-se,
               na “Invicta Film”, que a produção deve apoiar-se na literatura nacional para garantir o êxito comercial dos seus
               filmes com a popularidade de que gozavam certas obras literárias. Não só obras menores: Eça, Camilo, Júlio
               Dinis, Abel Botelho, são autores que podem assegurar o interesse do público. “O Primo Basílio”, “Amor de
               Perdição”, “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, “Mulheres da Beira” entram nos projectos de produção da “Invicta
               Film”.

                     Num país com um pequeno número de salas de cinema, sem saída fácil para as suas produções e sem
               possibilidades de expansão para dentro e para fora do país, onde a concorrência é, a todos os níveis, cada
               vez mais forte; sem qualquer apoio a nível de Estado, que, por sua vez, enfrentava constantes problemas e
               inquietantes crises económicas e políticas, a “Invicta Film”, tão modelarmente erguida poucos anos antes, irá
               soçobrar.  “Cláudia”  e  “Lucros Ilícitos”  (1924), filmes  medíocres e incaracterísticos (que se  pretendem
               «modernos», com a jovem francesinha a dar-lhes um ar de frescura) serão o «canto do cisne» da empresa
               portuense. Cartazes dos filmes atrás citados podem ser vistos mais à frente no capítulo dos Cartazes.












































                     Seguindo a tradição portuguesa de importar técnicos e artistas, a “Invicta Film” importou cineastas. Até
               aqui nada de mal. Só que a empresa não soube renovar os seus quadros. George Pallu era um homem culto,
               inteligente, honesto, proficiente, mas  fora  formado na escola do  «Film d’Art»,  quando ainda o cinema era
               balbuciante como meio de expressão. E se, durante um ano ou dois, os filmes da “Invicta Film” puderam pôr-
               se a par da produção corrente que vinha de fora, em breve ia sobrar-lhes em regionalismo o que lhes faltava
               em qualidade e invenção formal. Nesta empresa, todos pareciam alheios ao desenvolvimento do fenómeno
               cinematográfico que estava a operar-se por todo o lado.

                     De  1925  a  1928,  a  “Invicta  Film”,  já  em  vias  de  liquidação,  ainda  conservará  alguma  actividade
               laboratorial, mas essa mesma (confecção de legendas para os filmes estrangeiros) lhe será arrebatada pela
               distribuidora “Castello Lopes, Lda.” que, para o efeito, montou laboratório próprio, em Lisboa. Até que no dia 2
               de  Janeiro de 1931  é ditado o fim da  “Invicta Film,  Limitada”.  Todos os haveres da firma vão a leilão  e o

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