Page 43 - Jose Morais Autobiography Book 1
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Confesso que a minha intervenção cívica nunca assumiu carácter político nem nos
                  E.U. nem em Portugal. Apesar  da longa caminhada  profissional e comunitária,
                  senti-me um aluno a regressar à escola quando fui a Portugal para participar no 1º
                  Conselho. Mas logo percebi que pouca diferença faziam os largos corredores da
                  Assembleia da República dos espaços em que me movimentava nos E.U.  Percebi
                  também que a vida de Conselheiro das  Comunidades pouca  diferença  faz do
                  trabalho que realizava com os emigrantes lusos em terras do Tio Sam.

                  Fui eleito Presidente  da Secção dos EU  e Bermuda do Conselho Permanente,
                  órgão que me permitia viajar para Portugal com o objetivo de transmitir e defender
                  os interesses dos emigrantes a viver neste  país. Também cedo  percebi que  os
                  Conselheiros para além  de representarem o  país de acolhimento também
                  representam os emigrantes no seu todo,  independentemente  da nação onde
                  estejam a viver.

                  Passei a viajar com muita regularidade a Portugal, sempre a custas próprias. Esta
                  circunstância  fazia de mim um Conselheiro com uma autonomia e isenção
                  diferentes da  maioria dos meus colegas, que só iam a Portugal participar das
                  reuniões se o Governo Português lhes pagasse.
                  Como Conselheiro,  apenas um interesse me  movia: Servir  os Emigrantes
                  Portugueses  espalhados pelo  mundo, com destaque para as comunidades
                  radicadas nos EU.
                  No mandato seguinte, já com mais experiência sobre as  funções de  um
                  Conselheiro, vi reforçada  a  minha posição, com  o apoio dos colegas de  todo  o
                  mundo. Fui proposto para Vice-Presidente, cargo que aceitei e que muito apreciei
                  pela oportunidade que me deu de servir o meu povo emigrante. Todos os dias me
                  questionava: Será que o Conselho das Comunidades está realmente a trabalhar
                  em prol do seu público alvo? Creio que sim, apesar de ter verificado que muitos
                  dos conselheiros estavam ali em benefício próprio e um pouco por vaidade e sede
                  de poder.

                  Apesar de tudo, creio que muita coisa se conseguiu fruto da luta conjunta de todos
                  os conselheiros. Colocamos na agenda  política os anseios  e necessidades dos
                  emigrantes,  espalhados pelos cinco continentes. Pusemos a  Assembleia da
                  República a discutir e a encontrar soluções para os problemas das comunidades,
                  diferentes em cada  país de acolhimento.  Por outro lado, era confrangedora a
                  ignorância e a falta de respeito quer de governantes, quer de políticos em geral
                  quer do povo português, quer de  Embaixadas e  Consulados  relativamente à
                  emigração lusa e suas comunidades. Com o nosso esforço e empenho, deixamos
                  mais clara a nossa posição de que as comunidades são merecedoras de todo o
                  respeito e de respostas para os seus problemas. Que esta é uma dívida que o
                  país tem para com os seus emigrantes.
                  Denunciamos situações de Embaixadas e Consulados que sistematicamente
                  desrespeitavam (e, infelizmente, continuam a desrespeitar) as comunidades,
                  abrindo e fechando à hora que lhes apetece, dando prioridade a quem tem mais
                  poder e ignorando os mais desgraçados, frequentando festas em cima de festas
                  com comes e bebes e não resolvendo os problemas reais. É muito comum assistir
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