Page 44 - Jose Morais Autobiography Book 1
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à diplomacia portuguesa afastada dos emigrantes, não representando a
comunidade no seu todo, vivendo de mordomias e num pedestal.
No Conselho das Comunidades tentei marcar sempre a diferença. Posso referir
dois casos, em jeito de ilustração do trabalho realizado: um teve a ver com o
ensino do Português no estrangeiro. Apesar de ser um defensor acérrimo desse
ensino com qualidade junto de todas as comunidades emigradas, sensibilizou-se
bastante a falta de ensino oferecido aos emigrantes da Bermuda. Neste território
nem Portugal nem a Bermuda oferecem aulas de Língua Portuguesa às crianças
nascidas no território bermudiano. Como sabemos, a Bermuda não dá cidadania
às crianças filhas de emigrantes ou trabalhadores estrangeiros. A bem da
verdade, os emigrantes depois de cumprirem os contratos de trabalho que lhes
permitem entrar na Bermuda têm de regressar a Portugal. Ora como é possível
regressar a Portugal com crianças que não sabem Português? Também é preciso
lembrar que a Bermuda tem um contrato coletivo estabelecido com estes
trabalhadores e que uma das cláusulas aponta para a obrigação do Governo da
Bermuda oferecer aulas de Português. Mas nada disso era cumprido.
O outro caso prende-se com a nossa luta para abrir um posto consular na Florida.
Quando iniciamos a nossa atividade, quer o governo português, quer os políticos
quer a Embaixada dos EUA não faziam a mínima ideia da quantidade de
portugueses que se radicaram na Florida após a idade da reforma. Apresentamos
as estatísticas em diversos contextos, insistimos nesta luta e só depois é que
perceberam a importância de atender às necessidades dos mais de 50 mil
portugueses que viviam na Florida, tendo mantido a sua inscrição nos consulados
onde antes residiram e trabalharam. Depois de tanta luta, foi criado um posto
consular em Orlando, Florida.
Em novas eleições fui eleito Presidente, tendo tido como testemunhas jornalistas
convidados e autorizados a participarem no Conselho das Comunidades
Portuguesas. Logo surgiu um grupo que tudo fez para alterar a orientação de voto
dos Conselheiros, com a conivência dos governantes de então. Durante o almoço,
houve negociações e conversas para me colocarem fora do lugar de Presidente
do Conselho das Comunidades. Eu era uma pessoa muito frontal e denunciava
também os interesses pessoais que alguns conselheiros e secretários de estado
moviam a partir da sua missão neste órgão. Pela minha independência virei uma
pessoa não grata e, depois do almoço, foram propostas novas eleições. Nesta
nova ronda eleitoral, eu perdi as eleições por 1%. As eleições foram impugnadas,
o resultado da última eleição não foi aceite e o processo foi denunciado junto do
tribunal. Agradeço ao advogado Miguel Reis e ao Conselheiro Gabriel Fernandes
o acompanhamento de todo este processo e a defesa que fizeram da minha
pessoa. Vim a saber mais tarde que o meu nome fora excluído por parte de alguns
Conselheiros e governantes, que estavam ilegalmente na sala de reuniões na hora
da eleição, com a justificação que eu não tinha grau académico para exercer as
funções. Dos colegas dos EUA e de muitos outros recebi sempre um grande
apoio. Compreendo que as habilitações literárias são importantes, mas não são
tudo nem ensinam tudo na vida. Porque o meu objetivo era trabalhar para os