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12 | Filosofia como Remédio para a Solidão
Na realidade, o objeto – solidão – que se dá como
possibilidade de conhecer neste livro coincide com to-
dos os objetos possíveis em que a fala nomeia para po-
der dar sentido enquanto expressões de linguagem. É
como se fosse uma bricolagem de ideias, sintomas, de-
sejos, expectativas e delírios cognitivos que sempre se
apresentam sob um disfarce, travestidos de significan-
tes que se esquivam furtivamente ao olhar limitado da
razão, e que se enunciam em função de seus respecti-
vos lugares, espaços, texturas, propondo coisas heteró-
clitas sobre as quais nada se sabe a priori.
A palavra encarnada é um feito artesanal da mente
consciente e inconsciente que tem o condão de identi-
ficar significantes e refletir sobre significados com o
propósito de nomeá-los e inscrevê-los numa fala dizí-
vel, cuja interpretação pode criar o sentido que per-
mite, de certa forma, revelar o que parecia ser de todo
sem sentido. Isto, porém, não significa dizer que a pa-
lavra veicula um tipo de saber capaz de trazer felici-
dade para o indivíduo. De maneira nenhuma. Talvez,
o máximo que ela consiga fazer é transformar a infeli-
cidade neurótica em infelicidade comum.
Em regra, ser comumente infeliz não deixa de ser
uma forma suportável de felicidade. É que todos os se-
res humanos parecem viver. Mas, “ser neuroticamente
infeliz é não poder compreender a extensão dessa
forma comum de viver a infelicidade”. Certamente,
para alguns isso pode parecer uma maneira pessimista
de pensar a vida e o mundo. Mas, o que é a vida ou o
mundo senão um processo de conhecimento mediado
pela palavra que introduz provisoriamente a certeza
sobre as coisas para aliviar a tensão originária da dú-
vida e da incerteza que habitam em cada um de nós?