Page 100 - PEQUENAS VERDADES DISTRAÍDAS
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Maurício Ramonnd







          O MENINO DO OUTRO
          LADO DO ESPELHO

          um colibri e mil cântaros
          cantam-me –cacos de vidro e de histórias

          sobre algum lugar, do outro lado do espelho,
          nas marcas desembotadas do tempo,

          onde, em ciranda descabida, feéricos meninos

          brotavam pelos vincos da rua
          e corriam desembestados
          com os olhos esbugalhados

          de quem sabe da vida uma felicidade

          e muitas desimportâncias.

          Mas,
          aqui estou, meus grilos,

          meus muitos grilos insistem em lembrar,

          eu estou aqui, entreolhares
          e homens atravessados sem saber

          –Quem eu fui?
          (nenhuma resposta)

          Por que carrego esse peso que me enverga as costas?

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