Page 15 - A CAPITAL FEDERAL
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Juntas
                         Quinota                                    Benvinda
                  Eu sou curiosa!                               É bem  curiosa!
                  Não sei me conter!                                    Não há que dizê!
                  A carta amorosa                               A carta amorosa
                  Depressa vou ler!                             Depressa vai lê...

                  Ambas – Uê!...
                  Quinota (Lendo a carta.) – “Minha bela mulata.”
                  Ambas – Uê!
                  Quinota (Lendo) – “Minha bela mulata. Desde que está morando neste hotel, tenho debalde
                                procurado falar-te. Tu não passas de uma simples mucama...” ( Dá a carta a
                                Benvinda.) A carta é para ti. (À parte.) Fui bem castigada.
                  Benvinda – Leia pra eu ouvi, nhanhã.
                  Quinota (Lendo.) – “Se queres Ter uma posição independente e uma casa tua...”
                  Benvinda – Gentes!
                  Quinota – “... deixa o hotel e vai ter comigo terça-feira, às quatro horas da tarde, no
                                Largo da Carioca, ao pé da charutaria do Machado.”
                  Benvinda (À parte.) – Terça-feira... quatro hora...
                  Quinota – “Nada te faltará. Eu chamo-me Figueiredo.”
                  Benvinda – Rasga essa carta, nhanhã! Veja só que sem-vergonha de home!
                  Quinota (Rasgando a carta.) – Se papai soubesse...
                  Benvinda (À parte.) – Figueiredo...

                                                       -   Cena V –
                                              As mesmas, Eusébio, Juquinha

                  Eusébio – Já tenho uma indicação!
                  D. Fortunata (Despertando.) – Ah! Quase pego no sono! (Erguendo-se.) Já temo casa?
                  Eusébio – Parece. O dono dela é o home com quem eu briguei indagorinha. Tinha me
                                tomado por outro. Vamo à Praia Fermosa pra vê se a casa serve.
                  D. Fortunata – Ora graça!
                  Benvinda (À parte.) – Perto da charutaria.
                  Eusébio ( Que ouviu.) – Não sei se é perto da charutaria, mas diz que o logá é aprazive; a
                                casa muito boa... Fica pro cima de um açougue, o que qué dizê que nunca fartará
                                carne! Vamo!
                  Quinota – É muito longe?
                  Eusébio – É; mas a gente vai no bonde...
                  Benvinda (À parte.) – Que Largo da Carioca! É os bondinho da Rua Direita! Vamo!
                  Juquinha – Eu quero i co Benvinda!
                  Fortunata  - Vai co Benvinda. É perciso munta paciência para aturá este demônio deste
                                menino! (Saem todos.)
                  Benvinda (Saindo por último, com Juquinha pela mão.) – Terça-feira... quatro hora...
                                Figueiredo...

                                                       -   Cena VI –

                  O Proprietário (Vindo da esquerda.) – Queira Deus que o mineiro fique com a casa... mas
                                não lhe dou dois meses para apanhar uma febre palustre! (Sai pela direita.
                               Mutação.)


                                                     Quadro III
                                             ( O Largo da Carioca. Muitas pessoas estão à
                                                espera de bonde. Outras passeiam.)
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