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REVISTA
1964, quando a classe média foi
às ruas “pela família e pela pro-
priedade”, contra o comunismo
que atribuíam a João Goulart –
que, por sinal, jamais fora comu-
nista. Nenhum militar, nenhum
banqueiro, nenhum político nor-
teamericano estava nas ruas em
1964, mas foram eles que toma-
ram o poder.
Hoje, os interesses interna-
cionais relacionados à posse do
pré-sal, os partidos insatisfeitos
pelas derrotas eleitorais consecu-
tivas se unem e vários políticos
que têm envolvimento com as ope-
rações investigadas pela Lavajato
e criticam o governo por não con-
tê-la, entraram nesta onda contra
a corrupção que movimenta parte
da sociedade brasileira, para se
aproveitarem do momento e der-
rubar o governo fraco de Dilma
Rousseff.
Como a população mani-
festa-se contra a corrupção mas
não tem projeto nem proposta,
qualquer oportunista vê nis-
so uma possibilidade: reúne-se
o PSDB e o DEM, desejosos da
vingança pelo fracasso eleitoral
consecutivo; com a parte fisioló-
gica do PMDB que se reuniu em
convenção e que calcula cuidado-
samente o momento de sair deste
governo para fazer parte do próxi-
mo, qualquer que ele seja; e esses
políticos todos vão às ruas com os
malucos que querem os militares
de volta e com a legião de pessoas
honestas e de boa vontade, que
sinceramente estão indignados
com a corrupção do país.
Nesse contexto, que apare-
ce ampliado pelas redes sociais da
internet, há muita gritaria e pouca
reflexão. Muita indignação e pou-
co pensamento. E sobretudo mui-
ta ingenuidade...
Enfim, podemos, sim, ter
uma política sem corrupção. Mas,
é preciso ter a paciência históri-
ca para saber que a luta contra
a corrupção começa no interior
da sociedade e se refletirá, cada
vez mais, no mundo da política,
não porque os políticos se torna-
rão pessoas mais honestas, mas
porque não lhes restará outra
alternativa. Mas, para isso, a so-
ciedade brasileira precisa dizer
aos políticos o que querem deles,
além deles não serem corruptos –
até porque isso eles sempre sou-
beram. Sem projeto, não vamos a
lugar nenhum que não seja menos
sombrio do que este, em que nos
encontramos.
É ISTO QUE É NOTÍCIA | 27