Page 98 - PEQUENAS VERDADES DISTRAÍDAS
P. 98

FIGUEIRA-DA-ÍNDIA

          quando um pueril e afobado colibri
          recosta, distraidamente,
          o seu dorso, leve e agreste,
          sobre a flor do cajueiro;
          quando amarelifica-se o juazeiro
          e pende, ao sabor dos aconteciventos, os noviços galhos do
          araçazeiro;

          quando o fruto da palma, a tudo que é vivo, a alma acalma;


          quando um mamoeiro reacende sonhos subcutâneos
          e uma teimosa goiabeira ensaia os seus primeiros bocejos
          extemporâneos;

          quando é primavera no sertão
          – aos olhos de quem vê –
          tudo é, entre rareadas brumas
          e louva-a-deuses desengonçados,
          encantamento e contradição.
   93   94   95   96   97   98   99   100   101   102   103