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BLUES BANAL [para os que esperam]

              Na fila dos que esperam
              Porvindouras bênçãos,
              Na fila dos que esperam,
              Estendo a mão e ofereço meus calos
              Como prova da minha miséria.
              Tende piedade desse mortal
              Que ama no impossível,
              Dentro da noite banal,
              Na íris mendigo invisível,
              Uma alegria canina rural;
              E que aprendeu a rir renitente,
              Divago sorriso, faca entredentes.

              (x2)
              Senhor, perdoe meus desejos vãos,
              Perdoai esse que estende a mão,
              Pois no delírio do meu canto rouco
              O que não me falta é pão.
              Misericórdia da minha miséria.

              Na fila dos que esperam,
              Confundido entre os restos, os rastros
              Que compõem o pão embolorado do dia,
              Na fila dos que esperam,
              Na vertigem das horas, cubro a alma com emplastros;
              Preencho o vazio com goles de cachaça,
              Porque tudo me é lícito, mas nada vem de graça.

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