Page 8 - 7ª Edição - Jornal Notícias da Gandaia
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8 REPORTAGEM | MAIO 2019 Notícias da Gandaia
TRAFARIA, MEU AMOR
de os visualizar, aliás isso deve ser o maior problema para todas as marchas”. Por isso estabelece uma média de 42 ensaios como prepa ração. Para os cumprir começaram a ensaiar há dois meses, fazemno três vezes por semana e quando as Marchas de Lisboa terminarem passam a ensaiar todos os dias.
Os desfiles são momentos de sentimento indescritível e cabe ao ensaiador motivar os marchantes ao máximo, “quem lá chega é que sabe o que é esta energia, já vi marchantes chegarem à avenida e bloquearem com o nervosismo e outros há que de repente se trans formam espectacularmente, tal é a adrenalina”. Mas o que mais apaixona José Carlos Mascarenhas nesta tradição de marchas são as próprias pessoas: “elas dizeremte que não sabem se são capazes e depois no final, quando juntas toda a gente – somos 48 que temos de parecer um –, vês aquilo funcionar na perfeição”. |
José Carlos Mascarenhas, baila rino e coreógrafo profissional, é, desde 1997, o ensaiador das Mar chas da Trafaria. O convite che goulhe por indicação de Carlos Areias, numa altura em que o actor foi padrinho da marcha.
A Marcha da Trafaria foi aquela que conquistou mais prémios ao longo dos anos de Marchas Popu lares de Almada, por isso o seu en saiador é igualmente o mais premiado. A trabalhar também com as Marchas de Lisboa, diz ter na Marcha da Penha de França e Marcha da Trafaria “as minhas duas paixões”. Ensaiou ainda a Marcha da Rua 15, durante dois anos, enquanto a da Trafaria es teve interrompida.
Esta marcha que esteve oito anos sem sair à rua, regressa agora a concurso, com o tema Tra faria, Meu Amor, que segundo o ensaiador “tem a ver com a garra com que nós marchamos e a pai xão que temos pelo nosso bairro”.
Em 2011, o último ano em que participaram, “ficámos em pri meiro lugar, mas deuse o faleci mento de um membro muito importante das marchas e a comis são desmoronouse, não houve disposição para fazer mais e até este ano não houve as vontades necessárias para que a Marcha da Trafaria voltasse a sair”.
Tanto que esta comissão é nova, já não é a mesma dos anos ante
Em 2016, foi a Marcha Popular da Costa da Caparica que conquistou o primeiro lugar das Marchas Populares
de Almada.
Para Rúben Coutinho, o responsá vel desta marcha, o que leva as pes soas a vibrarem tanto com esta tradição popular prendese com o facto de “além de ser algo que já está bastante enraizado e vai passando de uns para os outros, é sobretudo o convívio e a festa que nós consegui mos proporcionar tanto a quem par
D
|Maria da Conceição Serrenho De novo, a Gandaia. Feliz regresso.
Que dizer agora? Coisas simples, ta mesmo banais, que cada um lerá, de modo. O sentido é refletir junto. Ir daq para ficar mais perto. Para partilhar, pen percorrer espaço comum, no qual nos c mos. Não importa tanto que, o que se sejam “minudências”. Nas coisas simples quenas assentam, tantas vezes, as ques maiores e mais complexas, tornandoas e coloridas. Desta vez a tarefa é simples. sar o quotidiano, no ciclo atual, que o perc
A Marcha do Centro Comunitário PIA II foi a vencedora das Marchas Populares de Almada em 2017 e 2018. Um desfile verda deiramente almadense, pois todos os seus marchantes residem no concelho e 90 por cento são jovens do Monte da Caparica.
Cátia Durão, animadora sociocultural no Centro Comunitário PIA II e coordenadora desta marcha, recorda como foram vividos esses momentos, “com grande euforia, porque em 2018 consagrámonos bicam peões e ganhar o primeiro lugar consecu tivo é algo que não aconteceu muitas vezes na história das marchas em Almada”. Des tas vitórias resultaram “experiências distin tas, porque os ensaiadores não eram os mesmos, foram formas de trabalhar dife rentes, mas em ambas as mais valias foram o trabalho em equipa, o empenho dos mar chantes e ensaiadores e a aposta na criati vidade e originalidade. Pretendemos inovar
sem nunca deixar para trás a tradição, e de ano para ano o nosso nível de exigência au menta”.
O PIA II participa nas Marchas Populares de Almada desde a primeira edição, em 1994. Mas mesmo antes disso já a “Santa da Misericórdia de Almada fazia marchas populares com os idosos do lar, a nível in terno, e com a comunidade local, no bairro no Monte da Caparica e no centro de Al mada”. Como todas, preferem deixar em segredo o tema da marcha deste ano, mas prometem “manter o nível de espectacula ridade” a que habituaram o público. Para isso, a marcha de 2019, como sempre acon tece, começou a ser pensada em Outubro do ano passado, para no início do ano de apresentação estar tudo definido. Em Março, dão início à confecção dos trajes e em Abril à elaboração dos arcos, altura em que começam os ensaios. Diz o ditado que em equipa vencedora não se mexe, por isso, desde 2017, que o PIA II mantém os pa drinhos da marcha, Sérgio Alves e a Andreia
Ventura. O critério não passa por serem fa mosos, foram escolhidos porque “são jo vens de Almada, têm uma ligação com o concelho e com a tradição popular”.
Ambos os desfiles, na Avenida de Caci lhas e no Complexo do Feijó, são vividos com muita emoção e oferecem a oportuni dade de arrecadar prémios diferentes. No entanto estas duas exibições têm sabores diferentes, como explica Cátia Durão: “não podemos comparálas, na avenida é a apre sentação da marcha, é onde o público fica com uma primeira impressão sobre o nosso trabalho, mas por outro lado no pavilhão sentimos as pessoas mais próximas de nós e isso acarreta uma maior pressão para os marchantes”. Para a animadora do Centro Comunitário a tradição já não é o que era, “desde que o Metro Sul do Tejo surgiu em Almada, a avenida de Cacilhas não tem o mesmo brilho nem as condições necessá rias para o público assistir, o que leva mui tas pessoas a prefiram ir ao pavilhão”. E assim podese ir perdendo a tradição de rua e bairrista de outros tempos. |
riores, “não pode ser equiparada àquilo que foi a Trafaria de 14 anos juntos. Este é um projecto que vai representar a Trafaria no seu bom nome evidentemente, mas um projecto ano zero. Todos estão na expectativa de ver como nos vamos apresentar”, reconhece o ensaiador. Para José Carlos Masca renhas, a inovação tem sido um dos segredos do sucesso desta marcha, “mostrar uma perspec tiva diferente todos os anos, com os arcos e marchantes”, assim como a entrega, “o que nos distin guia era realmente a nossa ca gança, como dizemos, a força com que marchávamos e também es sencialmente o facto de trabalhar mos arduamente”.
“A Marcha da Trafaria foi uma locomotiva motivadora e de de senvolvimento das próprias mar chas de Almada em prol do espectáculo que foi sendo sempre melhor. Nós de certa forma fomos pioneiros, porque ao início acusa vamnos de fazer dança em vez de marcha, o que é certo é que hoje toda a gente faz dança”. Como en saiador, considera a gestão de pessoas a tarefa mais difícil, “é muito complicado conseguir ter os 48 marchantes nos ensaios, pois têm filhos, têm trabalhos, muitos com horários rotativos. O meu grande desafio é trabalhar com os marchantes invisíveis, porque eles não estão presentes mas eu tenho
SÃO JOÃO E
PIA II - INOVAR COM TRADIÇÃO

