Page 122 - 5
P. 122

FRAGMENTA HISTORICA                        Ordem que se deve ter no correr da argola e na
                                                                            justa (Séc. XV - XVI?)

           1 Documento


                              Ordem que se deue ter no Correr D argola E na Justa

                  Primeiramente a argola deue ser posta comuinientemente E em seu lugar, .s. a fustada da
           Carreira, ao menos 3 pees da parte esquerda do que Corre, porque assy Como na yusta ao emcontro
           sempre o aduersario uem da parte esquerda do Caualeiro, assy da mesma parte se deue por a argola
           pera que esteya em seu Justo lugar.
                  No que toca a altura Conuem outrossy que seya alta do Chão seis peés, porque na tal altura
           hé mais fermoso acustumar se a Correr a lança alta, que baixa, porque uindo depois a emcomtrar se na
           tea, ou em Campo aberto, podera mais seguramente E com maior Graça, E fassilidade romper sua lança
           na Justa de seu aduersario por este ser o mais notauel emcontro que se possa fazer.

                  O Correr da argola se inuentou assy pera doutrina E animo dos mançebos, Como tambem por
           ser hum prinçipio de aprender a Correr a lança Com mais fassilidade E grassa.
                  E posto que seya Couza difficultosa leuar a prinçipal parte de acorrer bem Consiste em que o
           Caualeiro leua bem a lança E corra airoso E o Correr a lança bem Como se deue Consiste em seis Couzas
           principães
                  A primeira em se por bem a Caualo, A segunda em ter, E leuar a lança / [fól. 16] na coria, a 3.ª
           em a saber tirar da Corea, a 4.ª em a por no reste, a 5.ª em a saber abaixar a 6.ª E ultima em a saber
           recolher
                  E quanto a primeira alem de outras muitas partes, Cousas que são neçessarias a hum bom
           justador, pera estar airoso a Cauallo 3 são as principães. A primeira hé que o Caualeiro não se deue
           muito de assentar na sella porque alem da Jncomodidade que reçebe no Correr da lança uaj dezairoso,
           nem deue estar muito posto sobre os estribos, mas ha sse de acomodar na sella de maneira que uenha
           estar algum tanto mais direita do ordinario quando passeia, porque fazendo o assy sera mais airoso a
           Cauallo E tambem se acomodara milhor E Jra mais seguro no Correr a lança, maiormente Correndo pera
           encontrar seu Jmigo.
                  A segunda hé que no Comesso da Carreira saia o seu Cauallo brando E deuagar, pera que
           milhor o Cauallo tome a tea, E porque partindo Com furia, E apressado poderia perder a lança Como
           muitas ueses aConteçe.
                  A 3.ª não ferir muito o Cauallo de espora da banda Esquerda por que não tenha oCazião de
           se apartar da tea, porque aconteçe a muitos Caualos fogir della, assy pello temor do encontro Como
           tambem por sintir o tropel do outro Cauallo que o uem a encontrar E por esta razão muitos Caualeiros
           acostumarão a trazer na Çilha Cascaueis pera que o Cauallo não sinta o tropel do outro.
                  A 4.ª em leuar a lança entre a Coxa, E a ssella, porque se estiuer armado não podera leuar
           segura sobre a Coma que lhe resuelara E nisto há 3 differenças, primeira leua lla algum tanto inclinada
           a parte direita. A segunda algum tanto inclinada a parte Esquerda A 3.ª que nem penda a hũa parte
           nem a outra, mas que esteya firme no meio, E esta hé a milhor, e mais segura, fazendo sse porem de
           maneira que a ponta da lança não esté nem muito alta, nem muito baixa mas em meio, E conuem que
           o Cotouello do brasso direito que / [fól. 16v.º] tem a lança, nem esteya alto, nem baixo, mas em meio
           Com boa Graça, E quando em algũa maneira a lança ouuesse de estar inclinada a hũa das duas partes




           1  Os critérios de transcrição adoptados são os da Universidade Nova de Lisboa, sugeridos em João José Alves Dias et al.,
           Álbum de Paleografia, Lisboa, Estampa, 1987


           122
   117   118   119   120   121   122   123   124   125   126   127