Page 15 - REVISTA MULHERES EDIÇÃO 21

JORNALISTA ISABEL MINARÉ
FOTOS: IGHOR THOMAS

A
solidariedade é imprescin-
dível quando se projeta o
olhar sobre moradores em
situação de rua e pessoas
carentes. Um dos trabalhos ofertados a
essa comunidade é realizado pelo gru-
po Mãos Amigas Uberaba. A entidade
ajuda a alimentar quem, por infinitas
vezes, não tem acesso a cuidados e ser-
viços básicos.
Mãos Amigas Uberaba é uma asso-
ciação civil de direito privado, filan- Elaine vivenciou a realidade das ruas
trópica e de assistência social, sem fins
econômicos. Ela foi criada em 17 de no- ro das refeições. “Aqueles marmitex (com arroz, feijão, carne, macarrão, salada e às
vembro de 2016 por Elaine Cristina da vezes gelatina de sobremesa) não vão só matar a fome, mas também servir como
Silva e colegas obstinados em contri- um remédio para a cura da alma ferida. A fé da gente é tanta que faz aquele jantar
buir com os mais necessitados. Elaine transformar quem o consome”, acredita. O segredo da comida boa é justamente
tem duas motivações intrínsecas para este: cozinhá-la com amor e comunhão. São várias mãos e corações para encher o
praticar a empatia: origem e criação. prato de luz e dignidade. O serviço é longo, intenso, agitado e só acaba por volta
A mãe, Silvana da Silva, ficou grávi- da meia-noite, depois das entregas nas vias públicas e da limpeza total da cozinha.
da dela aos 12 anos, vítima de um abuso “Não tem problema porque vou pra casa com o dever cumprido ao fazer uma boa
sexual. Expulsa de casa pelo pai, foi mo- ação”, completa, todo sorridente.
rar na rua, lugar onde também serviu Entre as atividades realizadas pela ONG estão o ‘Jantar solidário’ e o ‘Caldo
de maternidade para dar à luz a menina. com amor’. As marmitas levam alimento, afeto, atenção e carinho para aproxima-
Era uma criança sem nenhuma capaci- damente 400 pessoas, entre moradores em situação de rua e necessitados. Antes da
dade de cuidar de si e ainda lutando pandemia, a entidade promovia eventos presenciais como Páscoa, Dias das Mães,
para tomar conta de outra. A bebê, com Festa Junina, Dia dos Pais, Dias das Crianças e Natal em asilos, orfanatos e regiões
poucos meses de vida, foi vista dormin- específicas. Ela também fazia bingos, galinhadas, feijoadas, pizzas e campanhas
do, toda suja de xixi, encolhida no berço
– um caixote podre de madeira. A cena
comoveu uma prima de Silvana, Maria
Libânia da Silva. Ela não teve dúvidas e
decidiu pela adoção de Elaine.
Libânia ficou conhecida na cidade
por apoiar o próximo. Acolhia as pesso-
as necessitadas na própria casa e doava
mantimentos. Oferecia espaço para ba-
nho e até deixava dormir. Fazia o possí-
vel para prestar socorro à comunidade.
A obra foi o embrião para o surgimento
do Mãos Amigas. Donizete Faustino era
primo de Libânia, com quem aprendeu
a importância da solidariedade. É cozi-
nheiro e presidente da instituição. Toda
quinta-feira, às 15h30, ele chega à sede,
situada à Rua da Constituição, n° 91, no
bairro São Benedito, para lavar e picar
verduras e legumes e adiantar o prepa- Emerson, Elaine e Donizete trabalham, com mais voluntários, em prol dos moradores em situação de rua

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