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Os plásticos estão por todos os lugares e se
tornaram praticamente indispensáveis (uma bên-
ção). São descartados em poucos dias ou meses e
apenas uma pequena parte dele é reciclada (uma
maldição). De acordo com o Atlas, o Brasil é o
quarto maior produtor de lixo plástico do mun-
do, o que nos garante o posto de maior produtor
da tragédia ambiental no descarte do plástico na
América Latina.
Na linha de frente deste embate encontra-
mos verdadeiros alquimistas que ressignificam a
função dos resíduos sólidos: os catadores. Esses
trabalhadores vêm provando que seu papel so-
cial é complementar à economia e se insere no
contexto da necessidade de transição do modelo
produtivo vigente.
Preocupações com o meio ambiente ganham
espaço na mídia, destacando adaptações no for-
mato de produção. Contudo, a motivação pare-
ce estar centrada apenas no receio de perda de
consumidores. Por outro lado, embora de forma
ainda incipiente, a população faz um movimento
de alteração da sua própria postura de compra,
aumentando seu nível de exigência sobre a pro-
cedência dos produtos no mercado, dando indí-
cios de que uma maior conscientização ambien-
tal vem se firmando na sociedade.
Esse movimento é importante porque mostra
que as mudanças necessárias no cenário atual
podem acontecer, constituindo oportunidade
de encerramento e inauguração de ciclo. Talvez
seja esse o lado bom possível de ser observado.
Acreditar que somos capazes de promover uma
transformação positiva no mundo é algo neces-
sário. Desse sinal de esperança não podemos
abrir mão.
O momento é crítico. Enquanto na pauta
ambiental vigora uma maré alta de descarte ir-
regular do plástico combinada com uma ressa-
ca de responsabilidade, na pauta social pereniza
ausência de solução para paradoxos tão visíveis:
crianças sem a oportunidade da infância, jovens
urbanos em situação de rua, idosos sobrevivendo
a um desrespeito de dimensão cultural.
Se comemoramos o Dia Mundial do Meio
Ambiente discutindo as mazelas do plástico, é si-
nal que nosso teto é de vidro. Talvez nos falte co-
ragem e atitude para que uma mudança, de fato,
aconteça. Temos pela frente um longo caminho
para transpor esta fase de questões complexas.
Não há resposta fácil, exceto da pergunta do iní-
cio do texto, cuja resposta é 5 de junho.
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