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TRIPLA JORNADA
                  Na advocacia, como em qualquer profissão, as mulheres encontram um cem número de obstáculos seja no campo material
               seja no mundo subjetivo. Nas palavras de Annalise, “talvez bastasse uma lâmina para trinchar pensares”. Não seria diferente
               para a também uberabense, Patricia Teodora da Silva.
                  A advogada conta que a maior dificuldade que encontrou, por ser mulher, foi a tripla jornada de trabalho. Ou seja: preci-
               sava estudar, trabalhar, cuidar dos filhos e da casa.  Ela se refere, principalmente, ao período em que cursou a graduação, na
               Universidade de Uberaba. Isso sem falar que enfrentou duas separações e decidiu ser dona do próprio negócio após aban-
               donar o serviço público.
                  O caminho de Patrícia exigiu determinação. Hoje ela também administra o próprio escritório e conta que ainda estamos
               longe de uma verdadeira paridade de gênero na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Judiciário e no Ministério Públi-
               co. E ela está certa.
                  De acordo com a pesquisa “Como está a diversidade de gênero nos escritórios de advocacia no Brasil”, embora sejam 57%
               dos profissionais em escritórios, somente 34,9% das mulheres fazem parte do quadro de sócios de capital. Em outras palavras,
               quando uma mulher ingressa em uma banca, as chances de se tornar sócia são menores em relação a um homem. A pesquisa
               foi conduzida pela Women in Law Mentoring Brazil (WLM) com dados coletados em setembro e outubro de 2018 por meio
               de uma pesquisa online.O estudo contou com a participação de 55 sociedades, totalizando 3.715 profissionais.




                  SOLUÇõES?
                  Para Patrícia, a luz no fim do túnel ainda está distante, apesar das bandeiras
               que têm sido levantadas nos últimos anos. Isso porque, segundo ela, a ques-
               tão da mulher tem sido usada apenas de forma eleitoral, porém sem políticas
               públicas  concretas.  Consequentemente,  ela  aponta  uma  falsa  percepção  de
               melhoria enquanto o que se percebe é a manutenção do mesmo pensamento
               machista estrutural de outrora. Patrícia aponta que é preciso reivindicar sa-
               lários melhores para as mulheres. “Muitas são contratadas em escritórios de
               advocacia com salários insuficientes para uma verdadeira inclusão”, diz.

                  POLÍTICAS PúBLICAS
                  Nesse itinerário de “caminhos de musgo”, as advogadas analisam ainda as
               dificuldades porque passam as mulheres na profissão. Para se ter uma ideia,
               segundo os dados da WLM, 59,8% dos profissionais que pediram demissão
               em 2017 foram mulheres. Percebe-se, portanto, que o caminho é longo. Ou
               seja: empresas e escritórios ainda têm muito o que fazer para garantir que a
               mulher advogada conquiste seu espaço.
                  Para Ivanda Nivaldete, não é possível uma maior participação de mulheres
               na advocacia sem políticas justas. “Creio ser necessário o respeito ao princípio
               da igualdade e, mais do que isso, a implementação de cotas, obrigando uma
               contratação proporcional  entre  homens  e  mulheres,  para  evitar  tratamento
               desigual”, observa. Em razão do preconceito, segundo a advogada, muitas são
               as empresas que ainda preferem contratar homens. Elas fazem isso, principal-
               mente, porque “mulher engravida”. Ou seja, porque se afastam ou se ausentam
               em decorrência da maternidade.
                  De acordo com dados da OAB, a proporção de homens advogados é maior
               entre os profissionais mais antigos(as) (54,2% dos profissionais de 41 a 59 anos
               de idade). Por outro lado, o percentual de mulheres vem aumentando entre os
               profissionais mais jovens (62,7% dos profissionais com até 25 anos de idade).
               O problema, segundo Patrícia, é a quantidade de mulheres que acabam desis-
               tindo da profissão em razão dos assédios, preconceitos ou mesmo pela falta de
               estrutura. Na avaliação dela, em Uberaba, os juízes são respeitosos nas salas de
               audiência, os advogados têm mudado a postura em relação ao machismo e é
               possível perceber muitos colegas com posições progressistas. “No entanto, ain-
               da é difícil para a jovem advogada, e temos muitas barreiras a vencer”, conclui.
                                                                                     Patrícia Teodora


                                                                                                         Mulheres Ed. 23 - 23
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