Page 50 - Revista escriba (primeira ediçao)
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A saudade
É do sentimento de abstração
De quem se é
Do existir sem razão
Da destemível necessidade de correr os riscos
Da inconsciência destes riscos
Da vertigem da entrega
A qualquer preço.
A saudade
É da saciedade insatisfeita
Que tem consciência de que sempre pode haver mais
De que há como se sentir mais profunda e vibrantemente
Todas as sensações dessas horas
Em que se perde a sensação do tempo
De que sempre haverá tempo
Pra se pertencer sem demora.
A saudade
É da segurança
De que não teria fim
O que hoje já virou história.
A saudade
É do que sou, enfim
Do que eu sou e que, como nós dois, teve fim
Mas que ainda martela
na minha memória.