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A Botija










                            por: Kali Correia
             Vô contava  que,  numa  certa  e ganância, começaram uma disputa
       ocasião,  quando  já  morava  no  sítio  da  por este ouro. Então, o enterrei  aqui
       comunidade  do Jangada, zona rural de  dentro de uma botija e ela ficou aqui
       Mamanguape, a coisa começou a apertar.  por todo esse tempo. Agora ela pode
       O dinheiro  não dava,  a  terra  não  dava,  ser sua. Porém, para isto, você precisa
       e  a  fome  assolava  a  população daquele  ter o coração puro e sem cobiça, ou o
       pedaço  de terra  de meu  Deus. - Só um  ouro  se  transformará  em  algo  muito
       milagre mesmo, visse Danda? - lamentava  desagradável.  João sentiu  o corpo
       João  Vigia. Um dia, depois do trabalho  todo arrepiar. Teve medo do que podia
       duro na  terra,  foi  descansar  fumando  encontrar, mas começou a cavar.
       cachimbo perto da matinha que tinha no   Duas  horas depois, já estava
       fim do sítio, onde havia um córrego.   cansado e pensando em desistir quando
             O sol já  estava  sumindo  e a  bateu com a enxada em alguma coisa.
       escuridão  ia  tomando  conta  do céu.  De  Tirou a botija com rapidez da terra e
       repente, João mirou um vulto entrando na  esqueceu  tudo  o que  o espírito  tinha
       mata. Não deu muita importância. Achou  falado. Então imaginou  a vida de
       que fosse por causa do cansaço e o sol que  marajá  que ia ter, as cachaças  que ia
       levou na cabeça o dia todo. Olhou o céu  tomar, os carros que iria comprar...
       e toda a beleza daquela imensidão. Pedia  Pegou a botija, ansioso para ver o
       a Deus e a São Pedro que mandassem  brilho amarelo do ouro, mas, assim que
       chuva.                             abriu, teve uma sensação horrorosa.
             Quando voltou a olhar pra terra,   Lembrando  do que o espírito
       podia jurar que viu uma mulher de roupas  havia falado, João ficou enjoado, suou
       brancas e que ela o chamava para dentro  frio e teve vontade de vomitar, pois, de
       das matas. Hipnotizado  pela  visagem,  dentro dela, subiu um cheiro de deixar
       levantou  e  a  seguiu. A  visagem  o  levou  qualquer um tonto. O ouro havia se
       para dentro da mata. Ele a seguiu por mais  transformado em bosta! A visagem foi
       ou menos uma hora até que anoiteceu.   embora, gargalhando da cara de João, e
             De repente, o espírito parou e  nunca mais voltou.
       mandou que ele desenterrasse a botija,
       dizendo com uma voz doce e melancólica:        Conto retirado do livro
       - João, há muitos anos, recebi uma herança   “Neta de João, filha de Maria
       de meu pai, mas meus irmãos, com inveja           Contos paraibanos”



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