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Paquistão, muçulmana, 49                                 Quando os ataques de Paris aconteceram, pessoas que
                                                                        sabem sobre minha descendência árabe debocharam de
               “Todos deveriam se abrir e ler sobre o Islam, e então, se   mim e me provocaram perguntando se eu era terrorista
               desculpar por todos os seus erros.”                      e se havia ajudado nos ataques. Eu estava com nojo,
                                                                        mas tentei não parecer imatura. Logo, VÁRIAS discus-
               Brasil, não muçulmana, 12                                sões sobre os refugiados da Síria estavam acontecendo
                                                                        ao meu redor, e para o meu terror, a maioria das pes-
               “Então, a minha opinião é a seguinte: eu acho que o      soas acusavam com raiva todos os sírios e muçulmanos
               terrorismo não necessariamente é a religião. Eu apenas   de serem terroristas e concordaram em não abrigar os
               acho que algumas pessoas usam o nome da religião para    refugiados. Doeu o meu coração, porque essas pesso-
               o seu radicalismo. É como se a religião fosse um álibi   as inocentes querem vidas normais e também querem
               para eles. Não é porque a pessoa é muçulmana que ela     escapar dos terroristas! Naquele momento eu pensei:
               é terrorista, e quando uma pessoa pensa assim eu tento   “eles estão falando sobre o MEU povo. Se os refugiados
               fazer com que ela entenda, e não “travo uma guerra       tivessem sido negados anos atrás, eu não seria nascida,
               com ela”, o que só seria pior.                           ou pelo menos não estaria em um lugar em que a Cons-
                                                                        tituição  existe.”.
               Eu me sinto mal pelo fato de que algumas pessoas são
               oprimidas e agredidas (verbalmente ou não) porque ou-    Alguém continuou mostrando para os meus amigos ima-
               tros usaram o nome de sua religião para fazer algo que   gens estúpidas que brincavam com os terroristas sírios,
               essa própria religião é contra. Eu sou uma católica que   e eu fiquei tão cansada e estressada com isso... Eu me
               pensa assim: não é porque você é muçulmano que você      posicionei, mas rapidamente fui atacada por muitos e
               é terrorista.”                                           colocada de lado, como se meus pensamentos e exposi-
                                                                        ção de fatos os tivessem contrariado.
               Estados Unidos, não muçulmana, 16
                                                                        Eu sinto como se não conseguisse ao menos me posicio-
               “Eu acho sensacional que você esteja fazendo isso, por-  nar politicamente a favor do meu, o que não está certo
               que movimentos PRECISAM acontecer e nós todos pre-       porque, na verdade, essas pessoas não sabem o que está
               cisamos ser ouvidos!                                     acontecendo. Por isso, elas não devem decidir quais são
                                                                        os direitos   de   um   muçulmano/árabe.   Eu   sei   que
               Minha mãe e a família dela são da Síria. Mesmo que       os   refugiados   não têm, tecnicamente, os mesmos di-
               metade de mim seja descendente de árabes, eu não te-     reitos da nossa nação, mas nem foi dada uma chance a
               nho tido como aprender muito sobre a origem da minha     eles, então por que não os dar essa chance e não desistir
               família, devido a pressa deles de vir para a América, a   de seres humanos iguais a nós?”
               mudança de sobrenome para serem mais americanos, e
               porque a Síria tem estado caótica. De qualquer forma,
               eu continuo tentando aprender sobre a Síria o máximo
               que consigo, tenho orgulho de minha origem e espero
               aprender um pouco da língua árabe um dia.





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